São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Indefinição desorienta militância petista

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A despencada de Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas eleitorais criou um fato novo na cultura petista: uma campanha com modificações que às vezes não duram mais do que uma reunião.
Acostumada a ouvir um discurso único, a militância petista está atônita com a indefinição.
Desde que o Plano Real implodiu o favoritismo de Lula, análise de conjuntura, programa de TV e comando de campanha dão o tom do "samba do petista doido".
Lula apostou inicialmente no fracasso do real como arma eleitora de FHC.
Recuou depois de constatar o erro de avaliação, prometeu manter a moeda se for eleito e agora tenta fugir do assunto enquanto torce, ainda que disfarçadamanete, para que os problemas do plano econômico terminem com a lua-de-mel do eleitorado com FHC.
O programa de TV do candidato também segue o script do vaivém. Começou apresentando um Lula de terno e gravata tentando convencer como estadista.
Depois, optou pela radicalização, acompanhando o momento de queda na corrida pelos votos.
Falta de criatividade e de humor foram diagnosticadas pelo partido, que opta agora por uma terceira fase, menos dirigida à militância e com preocupação de criar um clima mais otimista.
A tradicional disputa interna foi levada até o comando da campanha. A cúpula de Lula não ficou imune à onda de alterações.
Insatisfeito com a falta de agilidade e com problemas que não eram superados pela coordenação, Lula bancou a ampliação dos poderes de assessores de sua total confiança: Paulo Okamoto, Paulo Vanucchi e Gilberto Carvalho.
Foi uma forma de esvaziar o poder de Rui Falcão e Luiz Eduardo Greenhalgh. Os dois são, respectivamente, líderes de correntes de esquerda e extrema-esquerda.
Já superado, o imbroglio José Paulo Bisol é também emblemático do ziguezague petista.
Lula e a maioria do comando de sua campanha tentaram resistir à saída do senador gaúcho da chapa presidencial, apesar da pressão da militância pela substituição.
Em sucessivas declarações, Lula defendeu a permanência de Bisol, até constatar que a situação era insustentável. O partido iniciava ali o ziquezague, depois agravado com o pesadelo do real.

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