São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Fraude vem desde 90, diz ex-covista

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-integrante da campanha de Mário Covas (PSDB) Rui Pessoa Ramos afirmou ontem que a arrecadação irregular de recursos pelo assessor do candidato Sebastião Farias ocorre desde 1990.
Ramos disse ter conhecimento de que as irregularidades continuaram até o final do ano passado, antes do início da campanha de Covas ao governo de São Paulo.
Ontem, Ramos repetiu parte das declarações que havia gravado em uma fita de vídeo apresentada à imprensa na quinta-feira.
Disse que as supostas irregularidades indicam a ligação entre Covas e Antonio Dias Felipe, dono das empresas prestadores de serviços Tejofran e Power.
Segundo ele, cheques da Tejofran subsidiaram a "mobilização política" de Covas nos últimos anos. A doação de recursos seria feita atráves de Sebastião Farias.
Ramos afirmou que a rede de postos Tigrão dava para a Tejofran notas fiscais de despesas inexistentes (notas "frias"). Em troca, a empresa emitia cheques nominais para a Tigrão.
Porém, os cheques não eram dados para a rede de postos, mas sim para Sebastião Farias.
O assessor de Covas, de acordo com Ramos, falsificava endossos nos cheques e os depositava em uma de três contas pessoias -duas no Banco Itaú e uma no Banco do Brasil.
Ramos observou que o proprietário da empresa, de nome Ernesto, não sabia o destino das notas e emitia os documentos por ser amigo de Sebastião Farias.
O ex-integrante da campanha de Covas não soube precisar o volume de recursos arrecadados por esse sistema. "Eram valores altos. Algo em torno de US$ 5.000 a US$ 10.000 por mês".
Acrescentou que resolveu fazer as denúncias somente agora por se sentir "alijado" da campanha.
Ramos afirmou que é militante do PSDB desde que Covas ocupou a prefeitura de São Paulo (83 a 85) e que nunca ganhou um centavo por trabalhar na campanha tucana. Ramos disse que se afastou da campanha há cerca de 20 dias.
Ele caiu em contradição pelo menos uma vez. Na fita divulgada na quinta-feira, Ramos afirmava que Covas sabia das irregularidades. Ontem, disse que não podia afirmar se o candidato conhecia ou não os fatos.
Ramos admitiu que há oito meses foi acusado pelo prefeito de Piracicaba, Mendes Thame (PSDB), de usar o nome de Covas para fazer tráfico de influência na cidade.
Mas afirmou que o assunto foi resolvido em uma conversa com Sebastião Farias e o filho de Covas, Mário Covas Neto.
Ontem, em Bragança Paulista, Covas disse que pediu a Ramos que se afastasse de sua campanha assim que recebeu as denúncias de Thame.
Afirmou que não tem qualquer relação com a rede Tigrão e que Sebastião Farias não cuida da arrecadação de recursos na campanha, mas sim da sua agenda.
Colaborou LUCIANA CAMARGO, da Folha Sudeste

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