São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Real provoca febre de rua e piora caos na cidade

VICTOR AGOSTINHO
CAROLINA CHAGAS

VICTOR AGOSTINHO; CAROLINA CHAGAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O paulistano passeou mais, comprou mais e enfrentou, por isso, congestionamentos recordes e filas maiores neste mês de agosto.
As vítimas dessa nova epidemia –a "febre de rua"– apontam o Plano Real como sua causa principal.
A escritora de livros infantis Cristina Almeida, 36, conta que sente "compulsão de sair às ruas". "Desde que me acostumei com o real, tenho vontade de procurar ofertas, comparar preços e circular", diz.
O casal de namorados Maria Cecília Faulin dos Santos, 19, e Hugo Slivinski, 18, ambos estudantes de direito, estava jantando no restaurante Família Mancini (centro), na sexta-feira à noite. Eles dizem que estão saindo muito mais agora. "Temos mais dinheiro no bolso, sabemos os preços e nos programamos melhor", afirmam.
O restaurante Fasano, um dos mais caros da cidade (um jantar custa, em média, R$ 60 por pessoa), registrou aumento de 15% neste mês. Nos cinemas, o crescimento foi maior. Os dados da Paris Filmes, empresa que controla 6.750 assentos de 27 cinemas da cidade, dão conta de uma frequência 30% maior, numa comparação direta com o mesmo movimento em agosto do ano passado.
O advogado Luis Gustavo Rehder, 28, desistiu de ir ao cinema na quinta-feira passada, depois de ter demorado meia hora para estacionar o carro e "dar de cara com uma fila monstruosa, dessas de virar o quarteirão". "Nem descobri que filme estava passando", disse.
Essa "efervescência real" já trouxe efeitos colaterais. O trânsito em São Paulo está ainda mais lento. A média histórica para agosto, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), é de 90 km de congestionamentos diários. Mas, anteontem, a CET já registrava 121 km de engarrafamentos.
Os consultores de empresa Ari Andrade Azevedo, 27, e Fernando Rensi, 24, foram alguns dos que sentiram o aumento dos congestionamentos na cidade. "Mesmo saindo às 17h do trabalho, demoramos uma hora para ir da Vila Mariana à Vila Madalena", afirmam. Em outros meses eles levavam no máximo 20 minutos para fazer o mesmo trajeto.
A publicitária Ruth de Almeida, 31, está rodando mais. "Depois da terceira vez que fui ao posto de gasolina e enchi o tanque pelo mesmo preço, me animei e passei a sair muito com o meu carro à procura de ofertas em supermercados e shoppings", conta.
A técnica em informática Luzia Aparecida Corrêa Lopes, 28, tem uma explicação pessoal para o fenômeno "febre nas ruas". "Acho que as pessoas estão comprando mais porque perderam o medo da conta estourada. O vermelho que aparece no banco é sempre pequenininho", diz.
Quem acha que andar de carro em São Paulo está difícil vai ter uma péssima surpresa nos próximos dias. As concessionárias de veículos, segundo a Fenabrave, acreditam que as vendas de agosto foram recorde, ultrapassando as 100 mil unidades.
Para se ter uma idéia do que isso representa, é preciso saber que em julho foram vendidos 86.097 carros e em junho 94.213 unidades. Como o Estado de São Paulo absorve cerca de 30% desse total, a previsão é de mais trânsito na cidade. A frota paulistana está hoje na casa de 4,1 milhões de veículos.

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