São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Astrônomos estudam fotos da colisão do cometa

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os cometas às vezes pregam peças aos astrônomos. Não foi isso, felizmente, o que aconteceu com o Shoemaker-Levy 9, que na data prevista (fins de julho) colidiu com Júpiter.
O cometa consistia numa fieira de 21 fragmentos envoltos em nuvem gasosa estirada nas extremidades.
Agora os astrônomos estão estudando as fotos do acidente, com o intuito de descobrir fatos novos a respeito do planeta.
Júpiter é o maior e o mais brilhante dos planetas.
Sua atmosfera é tão profunda que mal permite a observação direta da superfície sólida do astro. Nela há correntes ascendentes e descendentes (nuvens).
Um dos aspectos mais característicos de Júpiter, cuja rotação é rapidíssima, são as listras paralelas ao equador, umas mais claras (zonas) e outras mais escuras (faixas), de tons variáveis.
As quatro principais parecem acidentes permanentes na superfície do planeta.
Várias dessas listras estão relacionadas com as nuvens permanentes da atmosfera, segundo alguns especialistas.
Outra feição típica de Júpiter é a grande mancha vermelha, fenômeno de natureza ciclônica.
Dúvida
Antes mesmo do exame acurado dos fatos, certos astrônomos levantaram uma dúvida: teria o Shoemaker-Levy 9 sido mesmo um cometa ou um asteróide?
Asteróides são em geral mais rochosos e dificilmente se fragmentariam.
Os cometas são misturas de gelo, rocha e poeira, ao lado de substâncias gasosas que formam a coma (cabeleira) e a cauda.
Mas há objeções contra essa imagem tão típica dos cometas, ao mesmo tempo em que especialistas têm registrado a presença de coma e cauda em asteróides, formadas de poeira.
Nas regiões onde ocorreram os impactos do cometa, os cientistas não encontraram sinal de água e oxigênio, que esperavam da evaporação do gelo cometário.
É possível que tenham procurado nos locais errados.
Com efeito, os fragmentos do cometa penetraram a atmosfera pelo topo, em série.
Quatro primeiros
Os quatro primeiros formaram um mesmo buraco e devem ter atingido uma região anterior a 95 km onde se encontra uma camada de vapor d'água.
Mais para cima dela há nuvens supostamente formadas de hidrossulfeto de amônio, tudo indicando que foi nessa região que ocorreram as explosões, com liberação de amônia, sulfeto de hidrogênio e enxofre gasoso, segundo Michael D. Lemonick em "Time".
As áreas de penetração dos fragmentos são muito escuras e situam-se nas camadas mais superficiais da atmosfera, pois através delas é possível ver as listras do planeta.
Os ventos acima da atmosfera, que serão objeto de especial estudo, já estão começando a dispersar os buracos de entrada.
Registraram-se também ondas sísmicas e não se conhecem ainda os efeitos do impacto da grande mancha vermelha.
Mas há quem preveja a formação de uma estrutura desse tipo, nova e permanente.
Para ter idéia dos efeitos do impacto em Júpiter é preciso esperar que a poeira assente e que sobre o planeta caiam os detritos que ainda caminham para ele.
Só depois disso conheceremos as cicatrizes permanentes que ficaram no planeta como resultado da grande colisão.
Especulações
Antes do impacto, os astrônomos opinaram diversamente sobre o espetáculo que as explosões proporcionariam.
Uns especularam que seria o maior espetáculo cósmico jamais observado na história do Universo, outros se referiram a uma enorme bola de fogo (a qual de fato apareceu) e ainda outros menosprezaram o evento, reduzindo-o a mero espetáculo pirotécnico.
Os estudos que agora começam com a análise das fotos, obtidas por vários meios e em várias situações, contribuirão para sanar as dúvidas já existentes e certamente criar muitas outras.

Texto Anterior: Neurônio tem até um metro
Próximo Texto: Como se faz a hipnose?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.