São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Déficit esconde alta de exportação americana

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O elevadíssimo déficit comercial dos Estados Unidos encobre o fato de que as exportações se tornaram decisivas para a recuperação econômica do país.
As empresas americanas devem vender no exterior cerca de US$ 700 bilhões este ano, o que é equivalente a pouco mais de 10% do PIB (Produto Interno Bruto).
Em 1986, a participação das exportações na atividade econômica do país era de apenas 7,5%.
Essa nova realidade tem passado despercebida porque todas as atenções estão voltadas para o déficit comercial, que gira em torno de US$ 150 bilhões.
Quase metade do saldo negativo, no entanto, deve-se às relações comerciais com o Japão, que exporta por ano US$ 60 bilhões a mais do que importa dos EUA.
A revista }Fortune, que listou as 500 maiores indústrias exportadoras dos EUA, atribui o aquecimento do setor a uma nova estratégia das empresas, que estão encontrando novos nichos para seus produtos e serviços.
As exportações de serviços para os países do Leste Europeu, por exemplo, cresceram 25% nos últimos anos. Os bens de consumo vendidos para a América Latina renderam 46% mais no ano passado do que em 91. E os embarques de bens de capital para países da Ásia aumentaram 19% em 1993.
Em parte, os exportadores têm sido ajudados pela desvalorização do dólar, que torna seus produtos mais competitivos. Em relação ao iene, a moeda americana perdeu 35% em quatro anos, sendo que 12% desde janeiro.
Mas a mesma tendência não é verificada quando se compara o dólar a uma cesta de moedas. Dados do Federal Reserve Bank (o banco central) mostram que o dólar se mantém mais ou menos no mesmo patamar desde o início dos anos 90 em relação a uma cesta de 101 moedas. O nível está estabilizado em cerca de três quartos do registrado em 1985.
Segundo a }Fortune, a importância do setor não aparece completamente nos números oficiais porque o governo não computa as exportações realizadas por subsidiárias americanas.
Se incluídas essas vendas, o déficit de US$ 28 bilhões de 1991 se transformaria num superávit de US$ 24 bilhões, de acordo com as contas do próprio governo.
A importância das exportações pode ser medida pelo fato de quase todos os empregos industriais entre 1986 e 1990 terem sido gerados pelo setor de exportação, segundo o Departamento do Comércio.
A tendência se manteve. Em 92 a indústria da exportação empregava 10,5 milhões de pessoas, em comparação a 6,7 milhões em 86.
As perspectivas são de que os Estados Unidos exportem cada vez mais: o dólar não deve subir muito, se subir; o comércio internacional se beneficia dos acordos do Gatt (Acordo Geral de Comércio e Tarifas); e o liberalismo econômico se espalha pelos continentes.
Impulsionada tradicionalmente pelo consumo, a economia americana pode passar a depender mais da tração exportadora.

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