São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 1994
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Garotos driblam pressão e mudam atitude

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há três décadas, menina tinha que ser virgem. Homem, nem pensar. Nos anos 70, ninguém podia ser virgem sem ser chamado de careta.
Parece que os anos 90 são a década do equilíbrio, ou seja, só transa quem quer e quando tiver certeza que é a hora certa.
Beth Gonçalves, do GTPOS, acha que as coisas estão acontecendo com mais naturalidade. "Eles ficam, namoram, têm intimidades e só depois vão transar", diz.
Para a orientadora, a principal "novidade" é a mudança no comportamento dos meninos. "Eles estão menos ansiosos. Alguns até assumem a virgindade."
Segundo ela, os garotos sofrem menos pressão para iniciar a vida sexual. A maioria procura uma namorada e também prefere "treinar" antes da primeira relação.
Apesar da mudança, ainda existe alguma pressão sobre meninos virgens. "Garotos ainda não conversam muito claramente sobre esse assunto. Podem ficar constrangidos de assumir", diz.
Segundo Terezinha Reis Pinto, coordenadora do Aptateen, os adolescentes de hoje têm uma visão romântica do sexo. "A impressão que nós temos é que eles estão esperando o príncipe encantado para poder transar", afirma.
Patrícia Gomes, 17, parece que está. "Quero um cara que seja legal, eu tenho que sentir muita firmeza nele. E, é claro, tenho que gostar muito", confessa.
Marcelo Corte Pereira, 19, fez as coisas com calma. "Nunca tive a obsessão que muita gente tem por perder a virgindade. No dia em que rolou, foi bom." Ele não dispensou a camisinha. "Senão ia ficar mal", diz.
A psicóloga Beth Gonçalves, que também trabalha como orientadora sexual do colégio Equipe, diz ter observado que até os 15 anos os alunos dificilmente têm vida sexual ativa.
"Eles até podem ter algumas intimidades, mas sexo mesmo, dificilmente praticam." Ela conta que as relações só começam quando eles entram no 2º grau.
Parece que sim. Ricardo Gonçalves, 17, confessou ser virgem na frente de seus amigos e teve que aguentar piadinhas. "Mas não ligo não. Sou honesto, deixa que eles falem."
O estudante René de Castro, 15, também se assume com tranquilidade. "Sou virgem sim, e espero que a minha primeira vez seja com alguém de quem eu goste."
René é um dos "multiplicadores" do Aptateen, o segmento adolescente do Apta.
O projeto forma adolescentes, através da orientação de psicólogos e médicos. Esses teens passam a divulgar informações sobre a Aids em escolas públicas e particulares de São Paulo.
Além disso, esse grupo é responsável por um projeto que ajuda na integração de portadores do HIV às escolas.
(AL)

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