São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 1994
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Operação desaloja 80 famílias no Rio

ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

Cerca de 80 famílias foram retiradas ontem de terreno na Via Parque, na Barra da Tijuca (zona sul), pela Prefeitura do Rio. A operação contou com mais de 600 homens, entre Guarda Municipal, Polícia Militar e funcionários de diversos órgãos do município.
A operação estava respaldada por uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que revalidou liminar concedida pela 2ª Vara de Fazenda Pública que "autoriza a desocupação" das casas à beira da Lagoa da Tijuca.
Segundo a Procuradora Geral do Município, Sônia Rabello, a ação está baseada em "danos ambientais causados à Lagoa da Tijuca".
Os moradores resistiram à remoção. Por volta das 5h, barricadas estavam montadas nas vias de acesso à Via Parque.
Ao amanhecer, PMs iniciaram a operação, superando as barricadas e o protesto dos moradores.
A Associação de Moradores da Via Parque rejeita a proposta da prefeitura de alojar as famílias num conjunto habitacional em Jacarepaguá (zona oeste).
A manifestação contou com o apoio de diversos ambientalistas ligados à organizações não-governamentais. Segundo eles, a alegação da prefeitura é uma "farsa".
Hamilton Blois, diretor ambiental da Comperj (Cooperativa Mista de Pesca do Estado do Rio) afirmou que os moradores causariam "em 200 anos", a poluição "que um shopping causa em um dia".
A bióloga Sônia Regina de Brito Pereira, ex-secretária municipal do meio-ambiente, embargou em 90 a obra da Carvalho Hosken Engenharia na área da Via Parque. A construtora possui 3,5 milhões de metros quadrados na região.
A bióloga acredita que a Lagoa "vai ser incorporada ao empreendimento da Carvalho Hosken e à expansão do Barra Shopping, que pretende integrar a Lagoa ao seu projeto paisagístico".
Segundo o subprefeito da Barra, Eduardo Paes, o embargo ao projeto da Carvalho Hosken foi mantido.
Paes também afirmou que, independente do problema da poluição, "os shoppings estão em situação legal e esses invasores não".
Ele assistiu a operação, de binóculo, do alto de um dos prédios do Barra Shopping que esteve fechado "por razões de segurança".
Casas abandonadas
A prefeitura ofereceu aos moradores da Via Parque 136 casas de 24 m2 –muitas abandonadas– em Guerenguê, Jacarepaguá.
Marinalva de Souza, 26, doméstica, e a irmã Elaine, 15, moravam com sete parentes numa casa de dois cômodos. Elas temiam pela saúde do pai, que é cardíaco e talvez "não aguentasse o desgosto".
A Procuradora Geral do Município, Sônia Rabello, declarou, em entrevista coletiva na segunda-feira, que os "invasores da Via Parque são pessoas de classe média".

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