São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 1994
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Altíssimo nível

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Finíssimo debate. Em entrevista à imprensa, Orestes Quércia chamou Fernando Henrique Cardoso de "bunda mole" –ele já tinha usado essa expressão em 1990 contra Mário Covas, então candidato ao governo de São Paulo.
Fernando Henrique respondeu ontem com uma frase não exatamente sutil, insinuando homossexualismo de seu adversário: "Não sei por que ele se preocupa tanto com essa parte do corpo". Convenhamos: não fica bem. Até porque revela preconceito contra os homossexuais.
Nem de longe é uma resposta adequada para alguém quase sentado na cadeira presidencial. No mais, ele tinha quatro anos para ensaiar uma possível resposta a Quércia. Em 1990, Covas não rebateu imediatamente quando chamado de "bunda mole". Quando rebateu, saiu-se com uma grosseria: "Pelo menos é minha".
O ponto central, porém, não está aí. Desde que se oficializou candidato, essa é a polêmica mais picante travada por Quércia, sintoma de seu isolamento. Temido por seu extraordinário passado de vitórias, ele, a bordo do maior partido brasileiro, está por enquanto nos mesmos níveis do folclórico fascista Enéas.
Não deve ser fácil para Quércia e, muito menos, para o PMDB. O partido tinha um candidato que brilhava nas pesquisas, capaz de ser apoiado inclusive pelo PSDB. Para não disputar com Quércia, Antônio Britto desistiu. Situação parecida ocorreu com o senador José Sarney, outra estrela das pesquisas.
O candidato do PMDB não decola nas pesquisas; seu partido está em frangalhos e, para completar o desconforto, atraído por alguém cuja região flácida, aludida por Quércia, está próxima da mais cobiçada cadeira do 3º andar do Palácio do Planalto.
PS – Um documento da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, divulgado ontem, mostra onde estão os verdadeiros injustiçados do serviço público. No Piauí, um professor com curso superior lecionando no ensino básico ganha R$ 20,54 por mês. A remuneração média de um professor primário em Alagoas é de R$ 45,37; na Paraíba, R$ 64,00. Em São Paulo, é de R$ 102,00. No dia em que eles tiverem um quinto do salário médio da aristocracia do serviço público teremos uma revolução educacional.

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