São Paulo, quinta-feira, 1 de setembro de 1994
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Inflação passada ainda dá nota ao plano

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O Plano Real completa hoje dois meses, na fase da nova moeda, em ambiente mais pessimista do que o do primeiro aniversário.
Indicadores de seu desempenho, entretanto, não justificam o temor de que já estaria "fazendo água".
O clima mais pessimista, marcado pela disputa eleitoral, veio à tona com o IPC-r de 5,46% para agosto, acumulando 11,87% com os 6,08% de julho.
Por questões metodológicas, o IPC-r ainda reflete a aceleração dos preços na virada para o real. Não mostra o que ocorre com os preços hoje ou mesmo há 15 dias. Mas, por ser indexador oficial, dá o tom às discussões sobre o Real.
A cesta básica Procon/Dieese, que disparou entre junho e julho em São Paulo, fecha agosto com menos 4,15%. Em dois meses, -8,18%. Ontem, -0,69%.
Os responsáveis pela pesquisa fazem questão de observar, porém, que a cesta ainda está 11,11% acima do valor médio observado no quadrimestre usado para a conversão dos salários à URV.
Entre 16 atacadistas que fornecem para supermercados paulistanos, amostra de 2.271 produtos registra queda média de 1,54% em agosto, constata a Interstocks.
Juarez Rizzieri, coordenador do IPC da Fipe, espera inflação entre 1% e 1,5% para agosto. Mas como os salários estão indexados ao IPC-r, o governo teme que as empresas fiquem tentadas a repassar aos preços os futuros reajustes.
Na prática, o reajuste nominal pelo IPC-r repõe o salário real no patamar em que ele se encontrava em junho. Em teoria, poderia ser absorvido pelas empresas. O problema é que nem todas participaram da onda de remarcações no final de junho, entre elas as estatais.
Os ganhos de produtividade nos últimos anos, que dão folga para corrigir salários, foram mais significativos no setor privado.
O desemprego não chegou a aumentar com o Plano Real, embora a indústria paulista continue mais fechando do que abrindo vagas.
O Seade/Dieese só concluiu a pesquisa de julho na Grande São Paulo: taxa de desemprego total de 14,50%, contra 15,20% em junho.
A valorização do real frente ao dólar preocupa, mas os efeitos negativos sobre as exportações ainda são localizados (caso de calçados).
A tese de que o plano seria recessivo não se confirmou. As vendas reagiram. Inflação baixa evita que o dinheiro no bolso da população mais pobre evapore dia-a-dia, como ocorria até junho. E estimula o consumidor a se endividar, mesmo com juros de até 15% ao mês.
Os maiores problemas do plano estão nas áreas monetária e fiscal (emissão de moeda motivada por excesso de gastos públicos), de câmbio (valorização do real) e de salários (onda de reivindicações que possa realimentar a inflação).
São entraves sérios, mas por enquanto latentes. Desafiam mais o próximo presidente do que o atual.

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