São Paulo, quinta-feira, 1 de setembro de 1994
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Cosipa e a face da privatização

MARIA LÚCIA PRANDI

Cosipa e a faceda privatização
Há um ano, quando comemorava 40 anos como um patrimônio nacional, a Cosipa, terceira maior siderúrgica da América Latina, era entregue ao setor privado por um mínimo de dinheiro vivo e um máximo de moedas podres. Se para o governo terminava um "pesadelo", para os trabalhadores ele estava apenas começando.
O balanço deste primeiro ano de privatização não poderia ser pior. Embora a empresa tenha comemorado seus lucros, por trás dos números com os quais se tenta provar a excelência do setor privado há outra realidade.
A cada dois meses e 12 dias, em média, um trabalhador perde a vida em um acidente. Cerca de 2.500 foram jogados na vala do desemprego. Mais de 800 portadores de leucopenia (diminuição dos glóbulos brancos), contraída no trabalho, lutam para obter o reconhecimento de seus direitos.
Médicos funcionários da Cosipa são também peritos do INSS ou da Justiça do Trabalho e, ao produzirem laudos em processos movidos contra a empresa, o fazem favorecendo descaradamente o patrão.
A cada dia a privatização mostra novos ângulos de sua face mais perversa, impondo o desenvolvimento às custas da saúde e da vida dos trabalhadores. O Sindicato dos Metalúrgicos de Santos tem sido incansável na defesa dos trabalhadores, mas não pode estar sozinho.
Da mesma forma como devemos denunciar o massacre contra o trabalhador cosipano, temos de exigir a completa apuração das denúncias de falcatruas que levaram a Cosipa à situação altamente deficitária que justificou sua privatização.
A estratégia de "queima de arquivo" parece ter dado certo. Não se falou mais no rombo de US$ 15 milhões resultante de operação fraudulenta, em 86, envolvendo o ex-presidente da siderúrgica, Antônio Maria Claret Reis de Andrade, o empresário Wladimir Rioli e ex-diretores do BNDES, entre eles o então presidente André Franco Montoro Filho. Claret está envolvido também em remessa de US$ 1 milhão para o exterior, sob a alegação de pagamento de fretes. E, como se não bastasse, a Cosipa foi golpeada em US$ 26 milhões pela Paubrasil, empresa acusada de financiar as campanhas de Collor e Maluf.
O presidente da Cosipa durante o desgoverno Collor, Antônio Dal Fabro, entregou a siderúrgica à beira do colapso, mas seu patrimônio começou a crescer durante o período em que ocupou a presidência.
O manto da privatização acobertou o estelionato contra a Cosipa, ficando seus protagonistas livres de punição. E aí a farsa da compra da Cosipa, com o imediato repasse das ações à Usiminas. Essa evidente constituição de monopólio privado só agora começa a ser investigada, mas essa é uma outra história.

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