São Paulo, quinta-feira, 1 de setembro de 1994
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Não depende mais de Lula

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – A pesquisa Datafolha divulgada hoje mostra que, pelo menos por enquanto, o índice oficial de inflação não atrapalhou a candidatura Fernando Henrique Cardoso. O candidato do PSDB conseguiu até mesmo alargar sua vantagem diante de Lula: a diferença aumentou para 22 pontos (45% a 23%). Traduzindo: vitória folgada no primeiro turno.
Anunciado oficialmente segunda-feira, o índice de preços acima dos 5% começou a circular na sexta-feira passada. Os tucanos preparam, agora, uma ofensiva para anular a incômoda notícia: alardear no programa eleitoral gratuito outros índices (Fipe, por exemplo), mais agradáveis aos ouvidos dos eleitores.
A pesquisa mostra com nitidez um terrível fato para Lula: a vitória não depende mais de seu esforço. Está nas mãos dos outros. Só vai virar a tendência numa crise, explodindo os preços. Ou uma eventual reação negativa diante de um eventual pacote do governo para conter o consumo.
A inflação de 5% é alta para uma economia estabilizada, por gerar pressões salariais, defasagens aos exportadores, temores de investidores. Corre-se o risco de volta da ciranda preços-salários.
A população, porém, acostumou-se a índices gigantescos, beirando os 50% mensais. No mais, os preços dos alimentos estão abaixo do índice oficial, afetado em parte pelos aluguéis.
Mesmo que o PT estivesse azeitado e harmônico, já seria um desafio enorme enfrentar o Plano Real. Ao contrário: ainda não descobriu um discurso alternativo, a militância dá sinais de desânimo e os conflitos internos são exibidos publicamente. Seus candidatos a governador agonizam.
Do outro lado, o governo usa sem escrúpulos a máquina, a oligarquia do Nordeste opera a todo vapor e, à medida que saem as pesquisas, empresários demonstram súbito desprendimento na concessão de ajuda financeira.
É uma luta cada vez mais desigual. E ficará mais desigual se o PT passar a imagem de que, desesperado, aposta na crise para faturar votos.

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