São Paulo, quinta-feira, 1 de setembro de 1994 |
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Escoceses consultam colecionador de SP Claive Vidiz possui exemplares raros até na Escócia LUÍS FRANCISCO CARVALHO Fº ; SILVIO CIOFF; MÁRIO MENNUCCII
Vidiz, 60, presidente da Associação Brasileira dos Colecionadores de Whisky, começou seu acervo em 1969, com seis garrafas. Ao longo de cinco séculos os escoceses souberam, com maestria, destilar sua bebida juntando água pura, cevada e paciência –ingrediente necessário para que o uísque envelheça em tonéis. Já Vidiz, um brasileiro vivaz e simpático, tem uma receita para quem quer se transformar num colecionador: grandes doses de alegria, prazer e muita perseverança. Folha - Quantas garrafas de uísque tem sua coleção? Claive Vidiz - Muda todo dia. Hoje tem 2.368, só de uísque escocês. A exceção são 15 de "whiskey" irlandês. Irlanda e Escócia brigam para ver quem começou a destilar uísque. Mas o "whiskey" não usa turfa e é tridestilado. Folha - E qual é a garrafa mais valiosa? Vidiz - É muito difícil dizer. Mais de 300 marcas já não existem. Outras desapareceram a 50 ou 60 anos. Tenho duas muito especiais de 1907 (Victoria Vat) e 1908 (John Dewar). Folha - Existe uma garrafa que o sr. persegue? Vidiz - Persegui 20 anos uma garrafa de Ballantine's 21 anos, exportada para os EUA. Só a consegui em 1993, ao receber um "master" da associação "Keepers of the Quaich". Ele me deu a que foi produzida para o Japão. Folha - E qual ainda procura? Vidiz - Várias. Há uma feita para o transatlântico Queen Elizabeth 1ª. Essas garrafas alcançam US$ 150 mil em Londres. Folha - Quanto vale o acervo? Vidiz - É difícil determinar o valor de garrafas que não são distribuídas no Brasil. Há muitas que desapareceram, outras que só são vendidas no Japão ou na Rússia. Quanto custa ir buscá-las? Para citar o exemplo da Bell's, que faz edições alusivas à datas importantes da família real: nascimentos, casamentos, coroações... Folha - Divórcio não? Vidiz - Não, não... Agora a Bell's fez uma reserva para o príncipe William, o filho de Charles e Diana que será rei. A garrafa em forma de sino feita para o casamento deles vale, na Inglaterra, 4.000 libras esterlinas (cerca de US$ 6.120). Minha coleção é minha vida, não tem preço. Mas se for o caso de me desfazer dela por necessidade, por doença na família, aí vale o que for preciso. Folha - Qual é o segredo de ser um grande colecionador? Vidiz - A coleção precisa dar prazer e a pessoa não deve pensar em recordes. Não interessa ser o maior. O importante é a alegria que faz esquecer problemas e propicia momentos de lazer. É preciso ter ainda muita perseverança. Folha - E o que o sr. acha do "scotch" uísque brasileiro? Vidiz - Não é "scotch", já que por lei o "scotch" uísque precisa ser produzido, envelhecido e engarrafado na Escócia. A bebida engarrafada aqui precisaria ser provada ao lado de uma outra igual envasada na Escócia, na mesma hora. Não posso duvidar quando uma Seagram, United Destillers ou Ballantine's (Hiram Walker) dizem que adicionam água ao uísque das Terras Altas. Mas nunca fiz a experiência porque tenho medo de decepção. Folha - Como se devidem as destilarias entre Seagram, United, Hiram Walker? Vidiz - A United Destillers é o conglomerado que une 45 das 114 destilarias de puro malte. Depois existem três grandes grupos com número parecido de destilarias, de 12 a 15: Seagram, Whyte and Mackay e Hiram Walker, produtora do Ballantine's. Folha - O sr. é um "keeper of the Quaich". O que é isso? Vidiz - São "guardiões da taça". "Quaich" é a taça dos antigos. Esse título é dado a pessoas que fizeram coisas relevantes pela Escócia ou pelo uísque. Os grandes produtores formaram essa sociedade em conjunto com a nobreza. Há uma reunião no castelo de Blair, de uma família que tem 700 anos. O curioso é que o duque de Atholl, dono do castelo, é um nobre solteiro de 63 anos e sem filhos, o que vai acabar com uma tradição. A força dos "keepers" é grande e já temos o nosso próprio "tartan" (o xadrez dos clãs escoceses): é azul, numa referência à água, marrom para lembrar a turfa e dourado, que é a cor da cevada. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS COLECIONADORES DE WHISKY: informações através da caixa postal 2.520, CEP 01060-970, São Paulo. (Luís Francisco Carvalho Fº e Silvio Cioffi) Colaborou MÁRIO MENNUCCI Texto Anterior: Em Glasgow, o passado está em todo lugar Próximo Texto: SP ganha o 1º hotel compacto de alto luxo Índice |
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