São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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Se perder, PT teme adesões a FHC

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT convive com um pesadelo de plantão: a possibilidade de uma parcela do partido querer aderir a um eventual governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
O assunto é comentado na cúpula petista, que apesar de ainda trabalhar com um cenário de uma possível vitória de Luiz Inácio Lula da Silva já vislumbra o dilema aderir ou não como foco de uma explosiva crise.
Não há, ainda, quem publicamente defenda no PT a participação num eventual governo FHC. O ato seria agora a admissão antecipada de derrota, passível da acusação de traição.
Dois setores são apontados como mais propensos a aceitar a "cantada" que já está sendo ensaiada pelos tucanos: parte da intelectualidade petista e uma pequena fatia das correntes que não pertencem às alas de esquerda e extrema-esquerda do espectro ideológico do partido.
A grosso modo, o argumento que começa a ser esgrimido timidamente para justificar uma participação petista numa eventual administração tucano é o seguinte: FHC tem um boas idéias e para cumpri-las no governo precisará que a esquerda ajude a "libertá-lo" dos conservadores que hoje lotam seu palanque.
Markus Sokol, secretário de Comunicação do PT e líder da tendência trotskista "O Trabalho", admite que a discussão interna já abriga o tema aderir ou não.
"O embate será duríssimo porque haverá a tentação de alguns para deslocar os aliados de FHC e melhorar o programa dele", diz.
Sokol, é lógico, já anuncia o combate à tese da participação. Lula percebeu os sinais adesistas. Não gostou e ninguém até agora teve a coragem de sugerir a adesão sequer como hipótese na presença do candidato do partido à Presidência da República.
Marco Aurélio Garcia, coordenador do programa de governo de Lula e um dos petistas mais ligados ao candidato, também sabe que o assunto começa a fermentar nas conversas de bastidores. "Mas a única hipótese de o PT ir para o governo está na administração Lula", acha.
Até agora, tucanos já deixaram vazar o interesse na participação no governo de petistas como Francisco Weffort, José Genoino, Eduardo Jorge e Luiza Erundina. Os três últimos já descartaram publicamente a hipótese.
"Não participaria de um governo desse (FHC), embora ache que quem vencer deva conversar com o adversário", afirma Genoino.
Eduardo Jorge acredita que FHC não conseguirá romper com seus aliados do PFL, o que inviabilizaria qualquer acordo.
"Não deveríamos trabalhar para derrubar o governo, mas fazer uma oposição democrática e construtiva", declara o deputado paulista.
Mas o apelo pelo endosso a um "governo de união nacional" pode ganhar força no PT. A avaliação inicial é que a força da tese adesista dependerá do tamanho de uma possível derrota eleitoral do PT.
Se ela ocorresse no primeiro turno, reforçaria a pressão dos que apostam no caráter "reformador" da possível administração tucana.
A base de argumentação dos petistas conciliadores seria, então, que um governo legitimado pelas urnas teria obrigatoriamente que patrocinar políticas sociais compensatórias, que seriam melhor implementadas por adeptos de Luiz Inácio Lula da Silva.
Para se medir o grau potencial de apoio à tese da adesão, a história recente do PT fornece um bom exemplo. Ainda no governo Itamar Franco, Luiza Erundina desobedeceu a orientação partidária e integrou o ministério.
A ida de Erundina para o governo provocou, além de uma suspensão temporária dos direitos partidários da ex-prefeita paulistana, uma grande crise.
Na ocasião, uma expressiva fatia da bancada do PT na Câmara dos Deputados solidarizou-se com Erundina, que acabou demitida por Itamar.

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