São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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Partido vai viver nova crise ideológica

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Além da discussão imediata sobre participação ou não num eventual governo FHC, o PT, caso seja derrotado na eleição presidencial, fatalmente mergulhará num crise.
"Hverá um crise, mas ela não será insolúvel", vislumbra Marco Aurélio Garcia. O dilema será o mesmo de sempre, só que mais aguçado: o PT caminhará para a centro-esquerda reforçando sua ala social-democrata, ou apostará numa guinada esquerdista?
A maioria dos petistas aposta que, num primeiro momento, o governo FHC teria que optar por medidas recessivas. O cenário reforçaria, internamente, o discurso radical, que procuraria capitalizar o descontentamento da população com a situação econômica.
"Não há como o PT se transformar num partido da ordem e, se perder, o PT deve ir para a esquerda", opina Markus Sokol, que com seus aliados de outros grupos de extrema-esqerda controla hoje cerca de 20% dos postos da burocracia da legenda.
Na outra ponta do espectro petista, o deputado Eduardo Jorge acha que pode ocorrer o confronto entre "sectários" e "adesistas", e receita um caminho intermediário entre as duas opções.
Garcia antevê um quadro difícil. "Espichar à direita ou encolher à esquerda são duas tentações suicidas", acredita.
Um dos homens de confiança de Lula, Garcia não vê outra alternativa que não seja manter a atual linha política do partido. Admite que possa ocorrer até pequenas defecções.
Um esvaziamento grande de grupos e pessoas não consta do cenário imaginado por Garcia caso o petista seja derrotado. "Uma grande defecção só aconteceria se houvesse um redirecionamento brutal, que é uma hipótese em que não aposto", declara.
O pensamento hegemônico hoje no PT é que, depois de uma provável inflexão inicial à esquerda, o partido tende a ganhar um discurso mais moderado.
Esse tom mais cordato repetiria, respeitadas as diferenças históricas, a trajetória dos socialistas franceses, que após seguidas derrotas eleitorais introduziram uma dose de prudência em seu programa e, enfim, chegaram ao poder.
Na verdade, a "caixa-preta" petista guarda ainda o imponderável sobre a análise que Lula fará de um eventual tropeço.
Não se recolheu até agora qualquer sinal dos passos políticos de Lula caso não chegue ao Palácio do Planalto. Os petistas mais próximos ao candidato, como Garcia e Aloizio Mercadante (candidato a vice-presidente da República), tendem à moderação.
O temor das consequências da derrota é tão grande que José Genoino, um dos expoentes da ala "soft" do partido, afirma que se preocupa "tanto com a derrota" que faz "de tudo para evitá-la".

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