São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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Negociação deve orientar ação do governo

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Não há dúvida no PT que um eventual governo Lula será a administração do possível, sem nenhuma possibilidade de prevalecer o tom radical presente na retórica histórica do partido.
"Um governo de coalizão como será o de Lula pode negociar ritmos e prazos de pontos do programa", afirma, por exemplo, Rui Falcão, presidente nacional do PT.
A palavra negociação também é enfatizada por Marco Aurélio Garcia. "Nosso governo terá que negociar uma enorme agenda de negociações econômicas e institucionais", diz Garcia.
Juntas, as alas representadas por Falcão e Garcia teriam a maioria partidária. A questão da amplitude da base política com que Lula contará em um eventual governo é que abre a ferida interna. Aí, é visível a divisão.
José Genoino, por exemplo, acha que será indispensável ao PT negociar com o empresariado nacional e estrangeiro para evitar a fuga de capitais e a má vontade do patronato com o novo governo.
Genoino propõe ainda que uma das tarefas de Lula seja "recompor relações com parte do PSDB". Markus Sokol, da extrema-esquerda, aponta como um dos perigos da possível administração do partido a probabilidade de "substituir" a trajetória do PT "pelo consenso ou tese da união nacional".
O temor de Sokol tem um endereço certo: a disposição da cúpula de Lula de procurar nos tucanos um braço para governar.
"Quem ainda acredita que exista setor na cúpula do PSDB disposto a governar conosco é um imbecil", fulmina Sokol. Mas o sentimento majoritário do partido aponta para a cautela.
Rui Falcão admite a participação de setores de PSDB, PDT e até PMDB num governo petista. O dirigente deixa claro que a costura da governabilidade ficará com o presidenciável petista.
"O PT pode opinar, mas será Lula quem dará a última palavra na escolha de ministros", afirma Falcão, para quem as experiências muitas vezes traumáticas na relação prefeito-partido nas administrações do PT amadureceram a legenda.
Garcia enxerga no eventual governo Lula a necessidade de se amparar no partido para enfrentar os dois extremos que acha podem complicar a administração.
"Enfrentaremos a pressão dos inconformados com a derrota e também a dos setores mais desorganizados da sociedade que vão querer resolver em semanas problemas que enfrentam a décadas", declara Garcia.
Para ganhar a eleição num segundo turno, Lula sabe que terá que superar a desconfiança de amplas parcelas da classe média. O mesmo ocorre com a governabilidade.
Por isso, mesmo que em determinados momentos da reta final Lula radicalize o discurso, a prática num possível governo do PT deve apontar para a palavra-chave do vocabulário interno hoje: negociação.

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