São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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Uma paulada de mestre no consumo

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

O Banco Central não quer repetir este mês o equívoco de agosto, quando subestimou o IPC-r e permitiu que o CDI-over acumulasse juro real negativo de 1,25%.
Na quinta-feira, abertura do mês, sustentou o over-selic em 5,25%, igual ao do fim de agosto.
A estabilidade nominal dos juros serve a dois propósitos: 1) ao não fazer gesto brusco na política monetária, ele demonstra que não usará os juros para rechaçar eventuais pressões inflacionárias; e 2) mostra que este mês está disposto a pagar juro real nas aplicações de renda fixa e impedir fuga de recursos dos ativos.
O mercado opera com a expectativa de que o over ficará estável em 5,25% até o final do mês. Com isso, o preço básico do dinheiro ficará congelado em 3,74% efetivos.
Frente à projeção de IPC-r este mês de 2,10%, de "Dinheiro Vivo", o juro real é de 1,6%.
Essas são as premissas iniciais de um setembro que não será negro, mas que pode dar margem a agitações por causa do primeiro turno das eleições. Até lá, nada de substancial deverá ser feito pela equipe econômica, além das restrições ao crédito, já anunciadas.
Correções mais profundas de rumo no Plano Real só devem ocorrer em outubro, se FHC levar em primeira votação. Ou ficarão para mais tarde, se houver necessidade do returno em 15 de novembro.
Isso porque será difícil encontrar, para as correções gerais, fórmulas tão engenhosas quanto a usada para atacar o consumo.
Ao elevar de 20% para 30% o recolhimento compulsório sobre os depósitos a prazo, o BC promoverá uma violenta restrição de dinheiro para financiamento.
Na avaliação preliminar, a oferta de dinheiro será reduzida entre R$ 9 bilhões e R$ 12 bilhões.
A decisão deve se mostrar mais eficiente na contenção do crédito do que providências impopulares do tipo redução de prestações ou contingenciamento do crédito.
Ao povo, na TV, o ministro Ricupero poderá jogar a culpa dos juros altos na falta de patriotismo de empresários gananciosos. Mas a medida é uma paulada de peritos em ortodoxia monetarista.
O compulsório foi elevado de 20% sobre o "acréscimo" no saldo da última semana de junho para 30% sobre o "estoque total". Na prática, pelas contas de indignados diretores de crédito de instituições, a medida irá limitar à metade a capacidade de emprestar dos bancos.
Nos bancos varejistas, a elevação do compulsório sobre os CDBs não deve produzir impacto expressivo sobre os juros. Eles continuarão ganhando com o compulsório, que será recolhido em títulos federais: captam por um over menor do que o dos BBCs.
Os atacadistas, sem essa regalia, podem revelar desinteresse pela captação em CDBs.
Se precisar de dinheiro, contrate o giro pré o quanto antes. O enquadramento nos 30% é gradativo, se completando em 7 de outubro. Até lá, os juros só subirão.

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