São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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Por que o PT comemora

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – A cúpula do PT exultava ontem com a revelação da conversa entre o ministro Rubens Ricupero e um repórter da TV Globo –estava convencida de que a tecnologia dos satélites forneceu-lhe uma prova para mostrar o engajamento do governo federal na candidatura Fernando Henrique Cardoso. Compreensível: o partido está desesperado por qualquer fato novo que mude a tendência eleitoral.
Despencando nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva tem um objetivo: impedir, a qualquer custo, que Fernando Henrique encerre a eleição logo no primeiro turno. Depois, tenta-se acertar o resto.
Havia no partido a clandestina esperança de que o alto índice de inflação anunciado pelo governo revertesse a tendência –o que, segundo pesquisa Datafolha divulgada semana passada, ainda não ocorreu.
A indiscreta conversa desgasta o governo. E desgasta ainda Rubens Ricupero. Ele aparece como um cabo eleitoral de Fernando Henrique, usando a esperteza. Contrariando sua imagem pública, aparece arrogante e orgulhoso. Mostra-se vítima de seu próprio sucesso.
Não sem motivo, desde ontem de madrugada, quando se conheceu com mais detalhes a íntegra da conversa, Itamar Franco considerava seriamente a hipótese de demissão de mais um ministro da Fazenda. O que, eleitoralmente, não é ideal ao PT.
Na falta de um discurso alternativo ao real, o PT bate na tecla de que o plano é eleitoreiro, moldado para colocar um candidato no Palácio do Planalto. A manipulação dessa fita e de Ricupero tonifica esse discurso.
Ainda é cedo para se avaliar o tamanho do impacto eleitoral do episódio. O fato é que foi péssimo para Fernando Henrique, obrigado agora a entrar na defensiva. Lula viu aí (e com razão) sua bóia de salvação para, pelo menos, embolar o jogo e credenciar-se ao segundo turno.
Como se vê, o clima de "já ganhou" no comitê de Fernando Henrique corre o risco de ser tão "realista" como o clima de "já ganhou" de Lula antes do real.

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