São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 1994
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O argumento falso

JANIO DE FREITAS

A intervenção do governo contra o acordo entre os metalúrgicos e a indústria automobilística está fundada em uma farsa, que é a sua alegada convicção de que as montadoras de veículos, embora admitindo não repassar os reajustes para os preços, mais adiante o fariam. O governo, na verdade, está ciente de que aumento dos preços é o que menos interessa às montadoras.
O interesse por carros importados deixou de estar concentrado na classe social de alto poder aquisitivo. Já alcançou a classe média e a expectativa é de que nela se expanda com rapidez, dadas a similaridade de preços com os nacionais e as melhores qualificações dos importados. Nestas condições, o aumento de preços pelas montadoras só agravaria sua concorrência com os importados. O que elas querem, e o governo está informado, é exatamente o oposto: é baixar os preços, pela redução dos impostos.
Pelo que se tem lido, as farsas têm muito mais aceitação entre os chamados intelectuais do que se supunha. O que não impede que farsas continuem sendo o que sempre foram. E governantes farsantes, idem.
Carta marcada
Quem é dado a apostas não deve perder a oportunidade oferecida por Fernando Henrique Cardoso, que, pelo relato de Fernando de Barros e Silva na Folha de ontem, aposta na desintegração do PFL.
Muito ao contrário do que disse Fernando Henrique, segundo o qual "o PFL é muito dividido", nenhum partido tem se portado com maior coesão do que o PFL, desde sua fundação. E não é de outra qualidade, até por inexistir outra, que o PFL extrai sua importância confirmada no governo Sarney, no de Collor e no de Itamar Franco. Assim como será no próximo.
Vá lá que Fernando Henrique procure atenuar a má impressão ainda persistente em parte do eleitorado, por sua aliança com os pefelistas. Mas inverter a obviedade, se não o surpreendo, ainda não está ao seu alcance.
Atenção necessária
É improvável que algum diretor de empresa disponha-se a dar a confirmação formal, mas, ainda assim, a Procuradoria-Geral Eleitoral e o Tribunal Superior Eleitoral deveriam investigar a ocorrência de telefonemas do secretário de preços da Fazenda, José Milton Dallari, a dirigentes de grandes empresas de São Paulo com as seguintes recomendações:
1- que as empresas não façam qualquer reposição salarial, nem admitam sequer discussão neste sentido com os sindicatos;
2 - que não aumentem o preço de qualquer dos seus produtos;
3 - que considerem tais recomendações válidas até as eleições, podendo, depois delas, tratar os problemas de salários e de preços como lhes pareça necessário.

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