São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 1994
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'Efeito Lucena' ameaça parlamentares

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo menos 16 parlamentares são suspeitos de também terem impresso calendários, cadernos e cartões de Natal na gráfica do Senado Federal com fins eleitorais.
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) cassou anteontem o registro da candidatura do senador Humberto Lucena (PMDB-PB), presidente do Congresso, à reeleição.
Lucena usou recursos públicos para imprimir 130 mil calendários com sua fotografia no ano passado para propaganda eleitoral.
O TSE já tem cópias de cadernos e calendários impressos no Senado por oito parlamentares.
São eles: os senadores Nelson Carneiro (RJ), Lourival Batista (SE), Guilherme Palmeira (AL), Ruy Bacelar (BA), Magno Bacelar (MA) e Henrique Almeida (AP), e os deputados federais Nelson Bornier (RJ) e Pascoal Novaes (RO).
A liderança do PT na Câmara recebeu e divulgou ontem material de mais seis parlamentares.
O procurador-geral da República, Aristides Junqueira, decidiu enviar aos procuradores eleitorais dos Estados subsídios para que contestem a candidatura dos políticos que usaram a gráfica.
Depende agora dos procuradores a abertura de processos pedindo a impugnação das candidaturas.
O vice-procurador-geral eleitoral, Antônio Fernando Barros, avaliou que a decisão sobre Lucena provocará uma avalanche de denúncias de casos semelhantes.
Por todo o Brasil, segundo ele, há casos de políticos acusados de usar material de campanha impresso em gráficas públicas.
"Hoje mesmo recebi um telefonema de Goiás informando sobre o uso da gráfica da Assembléia", contou Barros. Segundo ele, qualquer partido, coligação ou candidato pode solicitar à Justiça Eleitoral providências contra abusos.
O Procurador-geral da República poderá denunciar Lucena ao STF (Supremo Tribunal Federal) por crime comum.
A decisão do TSE não teve nenhuma consequência penal nem impõe ressarcimento dos cofres públicos.
Paraíba
Antônio Mariz, senador e candidato do PMDB ao governo da Paraíba, confessou ser usuário da gráfica: "Sempre fiz cartão de Natal e, eventualmente, calendário."
Revelou que no ano passado fez 80 mil calendários com sua foto, distribuídos como cartão de Natal.
Interesse individual
A liderança do PT na Câmara divulgou ontem instrução do Senado que regulamenta a impressão de trabalhos.
Pelo ítem 2.4 do documento, a gráfica não executaria encomendas para fins eleitorais e de interesse individual, a exemplo de cartazes, folhetins ou calendários.
O primeiro secretário do Senado, Júlio Campos (PFL-MS), disse ontem que a impressão de calendários "é uma tradição na Casa, desde que não tenha fins políticos e não ultrapasse a cota".
Cada senador tem direito a uma cota de R$ 4,1 mil reais por ano para imprimir o material que desejar, disse Campos. Os líderes e os membros da Mesa Diretora têm cota em dobro (R$ 8,2 mil).
Colaboraram DENISE MADUENO, da Sucursal de Brasília, e a Sucursal do Rio

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