São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 1994 |
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A educação ministerial
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO – Se autoridade ouvisse sugestão de mortais comuns, eu indicaria ao ministro Ciro Gomes a leitura do livro "La Educación Presidencial", de um jornalista argentino chamado Horácio Verbitsky, do jornal "Página 12".É a história de como o presidente (no caso, o argentino) é cercado, mal toma posse, pelos interesses conhecidos e se torna prisioneiro deles. Suponho que vale também para a educação ministerial. Até porque Ciro Gomes já caiu no esquemão, mesmo com pouquíssimo tempo no cargo. Aparece todo o dia na TV Globo. Nada contra aparecer na Globo. Desde que não seja para dizer apenas obviedades, "boutades" (raramente engraçadas) ou bobagens. Seria interessante que o ministro lembrasse que todos os ministros da Fazenda, desde que a memória alcança, foram queridinhos da Globo (e da mídia em geral, com as exceções de praxe). E que todos terminaram desmoralizados, cedo ou tarde. A fantasia com que a Globo reveste muitas vezes seus telejornais não resiste indefinidamente à prova da realidade. Se resistisse, todos os planos econômicos teriam dado certo e todos os ministros que ela apoiou seriam ídolos da pátria. Pela longa convivência (forçada) com essa gente toda e principalmente pela silenciosa observação do que os argentinos chamam de "entorno" das autoridades em geral, suponho que Ciro Gomes deva estar pensando o seguinte: Ah, eu sou melhor do que meus antecessores e, portanto, não terei o mesmo triste destino deles todos. A vaidade humana é infinita, ao menos enquanto dura a fantasia alimentada pela Globo e pelos inúmeros apêndices governistas da mídia. E não conheço um só amigo de presidente, ministro ou outra autoridade mais ou menos graduada que seja capaz de dizer: "Companheiro, hoje você fez a maior burrada". Faz parte da "educação presidencial" (e ministerial) o puxa-saquismo desbragado. Somado à vaidade do ser humano (que é infinitamente maior no ser político), leva a crer sempre na fantasia. E tem levado inexoravelmente ao desastre. Texto Anterior: Mecenato de repartição Próximo Texto: Por que somos uma subnação Índice |
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