São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Resultado sem maquiagem

JANIO DE FREITAS

Vistas as coisas sem os seus despistamentos, a primeira intervenção de Ciro Gomes como ministro resultou em derrota sua. Teve, nesse desfecho a inglória companhia do ministro do Trabalho, Marcelo Pimentel, cujo deslumbramento com o cargo, há anos tornado inexpressivo, revela-o o inverso da imagem que fez no Tribunal Superior do Trabalho.
Ciro Gomes foi chegando e entrando na batida do antecessor: "Não permitiremos, de jeito nenhum, acordo entre empresas e metalúrgicos." Passados os momentos de estréia, sentiu-se mais à vontade para acrescentar seu toque pessoal: "Se as empresas fizerem acordo, vamos dar um castigo exemplar. Não vamos só matar. Vamos matar e esquartejar." Mesmo informado de que, pelo acordo, a reposição de perdas salariais não seria repassada aos preços, Ciro Gomes interpôs-se para impedi-lo. Veio a greve.
Veio a greve e só então o governo entendeu que não tem base legal para impedir acordos do gênero. Foi a vez de Itamar Franco intervir, percebendo que o governo não tinha saída vitoriosa. Exigiu dos ministros da Fazenda, do Trabalho e da Justiça um jeito de salvar a face governamental. E aí vem o noticiário infiltrado de oficialismo: "Ciro manobra e resolve o impasse", "Governo encaminha solução e retira-se das negociações", e vai por aí o mascaramento. Mas a "solução" do governo nada altera, no essencial, do acordo que Ciro Gomes vetara.
Ministro é um cargo que produz aversão ao aprendizado e à memória (já houve até quem pedisse, ao se tornar ministro, que esquecesse tudo que escrevera antes). Não fosse essa a peculiaridade do seu cargo, Ciro Gomes extrairia da derrota um ensinamento para o futuro: todo cuidado é pouco com as orientações dos Bachas, Francos & Cia. Daí só vem autoritarismo primário. O bom senso fica do outro lado.
Socorro real
Um dos pretextos para o longo retardamento do Plano Real era a necessidade de preparar os bancos oficiais, em particular os estaduais, para operar as novas condições das finanças. Até que o pai-filho do real enfim proclamou que o chamado ajuste estava concluído.
Com dois meses de real, está o Banco do Brasil forçado pelo Banco Central a injetar no Banespa, para aliviar-lhe a situação crítica, 50% das necessidades diárias de giro deste banco, ou seja, o equivalente a US$ 2 bilhões.
Na verdade, o Banespa ficou isentado das exigências e imposições que os preparadores do plano fizeram a bancos de outros Estados: não convinha, eleitoralmente, abrir uma frente de atrito em São Paulo com o governador paulista. As tapeações, porém, acabam sempre desabando.
Defeito desfeito
No artigo de quarta-feira, sobre erros gráficos da cédula eleitoral, referi-me à observação que, posta sob o nome do Saturnino Braga, prejudicava este candidato ao Senado pelo Rio. Era a frase, puxada por um asterisco lá em cima, sobre a inelegibilidade de outro candidato. A Justiça Eleitoral está tomando as providências para corrigir o erro, com nova cédula.
A disposição defeituosa da cédula, que vai levar a muitos votos errados para presidente, não é, aliás, de responsabilidade do Tribunal Eleitoral. Para estas eleições, o TSE recebeu o modelo de cédula já determinado pelo Congresso. Sendo assim, não podia prestar mesmo.

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