São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Brizola terá que dividir poder no PDT

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

As possíveis vitórias em disputas por governos estaduais e a provável derrota na eleição presidencial prometem mudar a divisão de poderes e alguns dogmas do PDT.
O partido está acostumado a girar em torno de seu fundador e líder, o candidato Leonel Brizola.
Na avaliação de diversos pedetistas, o partido não será o mesmo: embora se evite falar em um enfraquecimento de Brizola, sua derrota é admitida em meio à concordância de que os vencedores das eleições estaduais sairão fortalecidos.
"A liderança de Brizola não vai ficar absoluta. Isto, pela idade dele (72 anos) e pelo fato de ser esta sua segunda derrota em eleição presidencial", disse o senador Lavoisier Maia, 65, candidato ao governo do Rio Grande do Norte.
"O PDT tem de aprender a ouvir as urnas, que apontam para uma urgente reciclagem do partido", afirma o candidato pedetista ao governo de Mato Grosso, o ex-prefeito de Cuiabá Dante de Oliveira, 42.
Ainda na dependência do resultado das urnas, as discussões no PDT apontam para um fortalecimento de correntes mais próximas a um modelo social-democrata.
O provável mau desempenho do PDT no Rio Grande do Sul –berço do trabalhismo– reforça esta tendência.
Social-democratas
Entre os maiores representantes da corrente social-democrata estão Dante de Oliveira e os candidatos aos governos do Paraná e Rio, Jaime Lerner e Anthony Garotinho.
"Vamos aproveitar as eleições para a construção de um projeto social-democrata", afirmou Dante.
Garotinho, que diz pertencer à "terceira geração trabalhista", afirmou que, depois das eleições, pretender conversar sobre a proposta social-democrata com Dante, Jackson Barreto (candidato ao governo do Maranhão) e Lerner.
Apesar de ressaltarem a importância de Brizola para o PDT e a necessidade de ele permanecer à frente do partido, candidatos a governos demonstraram adotar propostas que chegam a contrariar posições defendidas na campanha presidencial.
Para Lavoisier Maia, o partido deve modificar suas posições sobre, por exemplo, o papel do Estado na economia. Afirmou ser favorável ao Plano Real, criticado por Brizola e que também tem sido elogiado por Lerner.
Apesar de se dizer um nacionalista, Garotinho condenou a discussão ideológica da questão dos monopólios. "O problema é da eficiência contra a ineficiência", disse.
"O Brasil do ano 2000 não é mais o da época de Getúlio Vargas (ex-presidente da República, principal referencial político de Brizola)", afirmou Dante. Para ele, o PDT precisa se modernizar e assumir "uma postura mais nova".
Candidata ao governo da Paraíba, a deputada federal Lúcia Braga diz, porém, não abrir mão dos princípios do PDT. "As novas lideranças não vão afetar a força de Brizola", afirmou.
Leonel Brizola afirmou não ver problemas na possibilidade de fortalecimento, no PDT, de correntes não tão alinhadas com suas idéias.
"Somos um partido democrático, não ovelhinhas iguaizinhas. A homogeneidade existe é no conservadorismo, em torno do Plano Real", disse.

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