São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994 |
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Últimos bordéis verticais resistem no centro
AURELIANO BIANCARELLI
O maior deles, o condomínio Itatiaia, um prédio cinzento de dez andares na Barão de Limeira, ainda acolhe 150 mulheres e mais de 2.000 homens em dias de pagamento. Nos seus 45 anos de existência, estima-se que suas 19 "casas" foram palco de pelo menos 10 milhões de programas. Cálculos de porteiros e cafetinas dizem que o "69" –o edifício Renda, também com dez andares– estaria próximo desta marca. Nos dois prédios, os apartamentos foram divididos em quartinhos e os programas hoje são apressados. A clientela empobreceu. Profissionais liberais foram substituídos por operários. Os homens, no entanto, repetem o ritual que caracteriza as zonas verticais. Sobem pelo elevador até o último andar depois descem devagar pelas escadas em caracol. As mulheres ficam junto das portas ou enfileiradas nos degraus. Na disputa pelo cliente, valem sussurros no ouvido, biquinhos e passadas de mão. Na escada, o abraço é de graça. Lá dentro, nos quartinhos, o programa de 15 minutos sai por R$ 8,00. O Itatiaia abre suas portas às 9h e fecha às 21h30. É assim sempre, incluindo domingos e feriados. Em dias de vale e pagamento, o prédio recebe mais de 500 homens entre 18h e 21h. Cada um dos 19 apartamentos do prédio é tocado por uma "tia" que trabalha com seis a dez mulheres. Cada mulher paga uma diária que vai de R$ 10,00 a R$ 22,00. Se fizer mais, lucra. Se não fizer, tem prejuízo. "Muitas aqui vivem devendo", diz o zelador Alberto Guimarães, 62, há 15 anos trabalhando no prédio. As que ficam sem dinheiro, chegam a sofrer ameaça das cafetinas. "Muitas mulheres vivem em cárcere privado, sem poder ir embora", disse uma delas. Para quem sobe ou desce as escadas, o mundo no Itatiaia pode parecer sujo e deprimente, mas nem sempre é triste. A maioria das casas tem uma sala com sofá, cervejas e um "jukebox". "Homem Maduro", com Sula Miranda, "Toque Macio", de Alcione e "Tudo por Amor", com Eliana de Lima, são as músicas mais tocadas. Se não tem cliente, as mulheres dançam entre elas. É na escada ou na sala que o negócio com o cliente é fechado. Nos últimos oito anos, o número de clientes caiu muito por causa da crise e da Aids. Tatiana, 26, começou quando a preocupação com a doença quase não existia. "Em alguns dias, os homens eram tantos que as mulheres tinham que fazer turnos. Antes traziam presentes e davam caixinha. Hoje vivem pechinchando." Texto Anterior: Beijo pára na Justiça e vira filme brasileiro ; Americano beijou 8.001 pessoas em 8h Próximo Texto: Última cama de casal é 'sacrificada' Índice |
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