São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Mercado de arte cresce com Plano Real

VERA BUENO DE AZEVEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ter uma obra de arte e fazer um bom investimento. Agradar aos olhos e ao bolso ao mesmo tempo. Esta é a principal característica do mercado de arte no Brasil.
Um mercado ainda restrito e pequeno, mas que está sendo impulsionado pelo plano econômico, assim como outros ativos reais –imóveis, carros e telefones.
"Nos Estados Unidos, onde os investidores compram arte da mesma forma que adquirem ações, eles nem sequer vão aos leilões. São os agentes que realizam os negócios", explica o marchand Renato Magalhães Gouvêa.
No Brasil, segundo ele, os compradores querem ter o prazer de expor as obras em suas casas. Com isso, elas demoram para voltar ao mercado. "O giro das mercadorias é muito lento", explica.
Foi justamente a falta de "mercadorias" que fez com que o marchand Ricardo Saba adiasse seu tradicional leilão anual de junho para setembro.
"As vendas de obras de qualidade cresceram muito desde o anúncio do Plano Real e tive dificuldade em juntar as 330 peças que serão oferecidas no evento", diz ele.
Com o aumento da procura e a oferta pequena, os preços já chegaram a dobrar em apenas quatro meses, segundo Gouvêa.
Ele dá alguns exemplos, de peças disponíveis em seu escritório de arte. "Um gomil de prata brasileira, do século 18, que no início do ano custava US$ 2.500, hoje está sendo vendido por US$ 8.000", diz o marchand.
Uma escultura de Bruno Giorgi, que alcançava no máximo US$ 3.000, volta agora ao valor praticado há quatro anos: entre US$ 7.000 e US$ 8.000.
No leilão de Renato Saba, um óleo sobre tela de Portinari, denominado "A festa", tem como lance mínimo R$ 150 mil; a disputa pelo quadro "As baianas", de Di Cavalcanti, vai começar com R$ 70 mil; e o quadro "A praia", de Pancetti, não será vendido por menos de R$ 35 mil.
Investimentos
A confiança na recuperação do mercado de arte, com o Plano Real, tem levado marchands de renome a investirem nos diversos segmentos do setor.
Além de seus tradicionais leilões, compostos por peças de primeira qualidade e alto valor, o marchand Renato Magalhães Gouvêa decidiu apostar também em novos talentos.
Seu escritório de arte realiza, entre 28 de setembro e 15 de outubro, a exposição "SenSeS", primeiro evento do projeto "Arte Atual Brasil", onde nove entre 180 artistas emergentes foram escolhidos para expor suas obras.
A intenção do marchand é "abrir mercado para quem não está acostumado a comprar". Ele se refere à classe que não pode adquirir um Di Cavalcanti por US$ 70.000, mas tem poder aquisitivo para ter em casa um Silvio Dworecki, que na exposição custa cerca de US$ 3.000.
Gouvêa acredita que a recuperação do mercado de arte "vem de baixo para cima". Segundo ele, se uma obra de US$ 2.000 passar para US$ 3.000, a de US$ 3.000 passará para US$ 5.000 e assim por diante.
Além disso, o marchand afirma que as obras de qualidade, a grande maioria de autores já mortos, são cada vez mais raras no Brasil. "É preciso investir no artista novo para que a produção seja reposta e não se esgote", diz.
Já Ricardo Saba investiu na informatização de seu leilão anual, composto por obras de alta qualidade, que começa amanhã e vai até quarta-feira, no Clube Monte Líbano (as peças estão expostas hoje para visitação).
Excepicionalmente hoje deixamos de publicar a coluna Diagnóstico e receita, de Osiris Lopes Filho

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