São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Matérias-primas minam a estabilização

ELVIRA LOBATO E MARISTELA MAFEI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os fabricantes de produtos plásticos e de material de higiene e limpeza pediram ajuda ao Ministério da Fazenda para combater a pressão por aumento de preços dos fornecedores de matéria-prima.
O principal foco de pressão, segundo as indústrias, vem do segmento petroquímico, que passa por uma alta de preços no mercado mundial.
O caso mais grave é o da soda cáustica, usada na fabricação de sabões, alumínio e papelão. De julho até agora o preço da soda passou de RS$ 240 para R$ 302 a tonelada. A alta acumulada este ano, em dólar, chega a 143%.
A soda é uma das principais matérias-primas para fabricação de papel e celulose, alumínio, sabões e detergentes. A alta do produto já desencadeou uma pressão pelo aumento de preço das embalagens de papelão, usadas por todas as indústrias de bens de consumo.
Há ainda registros de aumentos indiretos, através da retirada de descontos, do cimento e dos principais produtos usados na fabricação de embalagens plásticas.
Celso Hahne, presidente da Abiplast (Associação Brasileira das Indústrias de Produtos Plásticos), reuniu-se na semana passada com o assessor de preços do Ministério da Fazenda, José Milton Dallari, para relatar as pressões por aumento dos derivados petroquímicos.
Segundo a Abiplast, no início de julho as indústrias retiraram o desconto de 7% e, agora, querem 5,7% de reajuste, alegando que seus preços ficaram defasados com a alta no mercado internacional e desvalorização do dólar frente ao real.
Hahne diz que já subiram os preços do polietileno de baixa densidade (usado nos filmes plásticos para embalagem) e de alta densidade (produtos de plástico rígido para indústria automobilística), o PVC e o polipropileno (embalagens plásticas e autopeças).
"Não temos como absorver este aumento e somos contra qualquer reajuste. O empresário precisa mudar a mentalidade de que pode aumentar os preços sempre que há aumento de consumo", diz o presidente da Abiplast.
Outro que já protestou junto ao governo foi o presidente da Abipla (Associação Brasileira das Indústrias de Limpeza), João Locoselli. "O governo precisa tomar uma providência. Por enquanto, os focos são localizados e podem ser combatidos facilmente, mas se não forem atacados vão se propagar por toda a cadeia produtiva", diz.
A alegação da maior parte desses setores que reivindicam ou mesmo dos que já conseguiram aumentos em real é a de que necessitam acompanhar os preços no mercado internacional, em alta devido ao reaquecimento da economia nos países do Primeiro Mundo.
"A pressão de custos que está ocorrendo é muito grande", atesta Ronald Rodrigues, diretor de assuntos corporativos da Gessy Lever.
José Antonio Amaral Martinez, diretor superintendente da Salgema, diz que a alta no mercado interno é apenas reflexo da subida de preços no mercado spot internacional.
"Economia estável não significa preços imutáveis", diz Martinez. Segundo ele, a Salgema fechou três anos com prejuízo desde 1990 porque os preços estavam baixos no mercado internacional. "Agora, não podemos abrir mão deste aumento", afirmou.
Alguns fornecedores de matéria-prima, como o de papelão-ondulado, chegaram a distribuir circular para seus associados para informá-los sobre como proceder para negociar reajustes.
"Muitas indústrias ficaram com preços defasados na entrada do real devido ao reajuste dos fornecedores", justificou Wilton Ferrari, presidente da Associação Brasileira do Papelão Ondulado.
Os fornecedores do setor aumentaram seus preços em até 20%, conforme apurou a Folha. Ainda não é possível avaliar quando esses aumentos irão bater no bolso do consumidor.
No caso do papelão, a incidência no preço final de 0,4% é relativamente pequena. Mas o acúmulo desses aumentos está fazendo a indústria de higiene e limpeza iniciar negociações para conseguir o repasse.
A soda representa 10% no custo da celulose, 8% no do alumínio e 6% no custo do detergente.

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