São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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O fim do sonho azul da IBM

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

"A IBM perdeu o bonde da História." A essa conclusão chegou o jornalista norte-americano Paul Carroll, 37, após cobrir para o "The Wall Street Journal", por sete anos, os bastidores da empresa que mais encarnava o poderio tecnológico e industrial dos EUA.
Em "Big Blues", Carroll faz documentado e dramático relato de como a síndrome da arrogância pode cegar toda uma companhia e corroer, em menos de uma década, imagem modelar e astronômicos faturamentos cimentados durante 70 anos.
"Os lucros podem até voltar, mas a IBM jamais voltará a ser a empresa carismática do passado", disse Carroll, em entrevista à Folha:
Paul Carroll - A IBM está muito mais saudável agora que há um ano. A operação é mais eficiente e menos burocrática. Mas não há uma visão capaz de salvá-la a longo prazo. A indústria de computadores vive de visões originais. E isso é difícil para uma empresa velha.
A IBM foi uma grande idéia, mas uma idéia do passado, baseada em mainframes (equipamentos de grande porte) e serviços. Agora, as oportunidades estão com outras empresas, como a Compaq.
Folha - O que diferencia as novas empresas do setor de informática da velha IBM?
Carroll - São muitas as diferenças. Criam softwares (programas) mais interessantes e é este o segmento do mercado mais favorável aos lucros. O surgimento do PC (computador pessoal) fez com que os problemas da IBM se evidenciassem. A companhia teve muitas oportunidades tanto no campo dos mainframes como no dos PCs, mas as desperdiçou.
Folha - Quer dizer que seus executivos não se deram conta do declínio?
Carroll - Os problemas derivaram, em parte, do sucesso. Durante sete décadas a IBM foi a empresa mais importante dos EUA, com lucros sem precedentes na história dos negócios. Basta dizer que, em 1984, atingiram US$ 6,6 bilhões. É necessário, no entanto, competir a cada dia, mês e ano –e não pressupor que o futuro está garantido. O que ocorreu com a IBM é uma lição para outras empresas.
Folha - Como "Big Blues" repercutiu na companhia?
Carroll - A IBM não ajuda autores com seus livros. Nem mesmo ajudou Tom Watson Jr., o filho do fundador, quando ele escreveu o dele.
Eu conhecia quase todos os executivos importantes. Apesar disso, as portas se fecharam. Mas a Microsoft, que no passado tivera estreitas relações com a IBM, estava magoada. Bill Gates me ajudou, fornecendo documentos e correspondências. Além disso, executivos deixaram a IBM nesse período e desabafaram comigo.
Após a publicação, a reação foi profissional. Alguns executivos gostaram porque acreditam que o livro aponta problemas culturais com os quais a IBM deve se confrontar.
Folha - Quem são as pessoas mais influentes no setor de informática?
Carroll - Creio que Bill Gates é a pessoa mais importante e influente no mundo do software. Os lucros da Microsoft, atualmente, são semelhantes aos da IBM. A Microsoft deve lucrar US$ 1,5 bilhão este ano contra US$ 2 bilhões da IBM. Interessante é que quando Gates começou a negociar com a IBM sua empresa não valia quase nada.
Folha - Chegará o dia em que o sr. escreverá um livro sobre a queda da Microsoft?
Carroll - É difícil prever o futuro além de dois a três anos. Creio que nesse período Gates não terá grandes problemas. Depois, quem sabe?
Folha - Quem são as pessoas que poderiam salvar a IBM?
Carroll - Creio que Tom Watson Jr., que comandou a companhia entre 1955 e 1971, poderia salvá-la. Porque ele e seu pai, o fundador da IBM, foram visionários e tinham forte personalidade.

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