São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994 |
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O fim do sonho azul da IBM
NELSON BLECHER
Em "Big Blues", Carroll faz documentado e dramático relato de como a síndrome da arrogância pode cegar toda uma companhia e corroer, em menos de uma década, imagem modelar e astronômicos faturamentos cimentados durante 70 anos. "Os lucros podem até voltar, mas a IBM jamais voltará a ser a empresa carismática do passado", disse Carroll, em entrevista à Folha: Paul Carroll - A IBM está muito mais saudável agora que há um ano. A operação é mais eficiente e menos burocrática. Mas não há uma visão capaz de salvá-la a longo prazo. A indústria de computadores vive de visões originais. E isso é difícil para uma empresa velha. A IBM foi uma grande idéia, mas uma idéia do passado, baseada em mainframes (equipamentos de grande porte) e serviços. Agora, as oportunidades estão com outras empresas, como a Compaq. Folha - O que diferencia as novas empresas do setor de informática da velha IBM? Carroll - São muitas as diferenças. Criam softwares (programas) mais interessantes e é este o segmento do mercado mais favorável aos lucros. O surgimento do PC (computador pessoal) fez com que os problemas da IBM se evidenciassem. A companhia teve muitas oportunidades tanto no campo dos mainframes como no dos PCs, mas as desperdiçou. Folha - Quer dizer que seus executivos não se deram conta do declínio? Carroll - Os problemas derivaram, em parte, do sucesso. Durante sete décadas a IBM foi a empresa mais importante dos EUA, com lucros sem precedentes na história dos negócios. Basta dizer que, em 1984, atingiram US$ 6,6 bilhões. É necessário, no entanto, competir a cada dia, mês e ano –e não pressupor que o futuro está garantido. O que ocorreu com a IBM é uma lição para outras empresas. Folha - Como "Big Blues" repercutiu na companhia? Carroll - A IBM não ajuda autores com seus livros. Nem mesmo ajudou Tom Watson Jr., o filho do fundador, quando ele escreveu o dele. Eu conhecia quase todos os executivos importantes. Apesar disso, as portas se fecharam. Mas a Microsoft, que no passado tivera estreitas relações com a IBM, estava magoada. Bill Gates me ajudou, fornecendo documentos e correspondências. Além disso, executivos deixaram a IBM nesse período e desabafaram comigo. Após a publicação, a reação foi profissional. Alguns executivos gostaram porque acreditam que o livro aponta problemas culturais com os quais a IBM deve se confrontar. Folha - Quem são as pessoas mais influentes no setor de informática? Carroll - Creio que Bill Gates é a pessoa mais importante e influente no mundo do software. Os lucros da Microsoft, atualmente, são semelhantes aos da IBM. A Microsoft deve lucrar US$ 1,5 bilhão este ano contra US$ 2 bilhões da IBM. Interessante é que quando Gates começou a negociar com a IBM sua empresa não valia quase nada. Folha - Chegará o dia em que o sr. escreverá um livro sobre a queda da Microsoft? Carroll - É difícil prever o futuro além de dois a três anos. Creio que nesse período Gates não terá grandes problemas. Depois, quem sabe? Folha - Quem são as pessoas que poderiam salvar a IBM? Carroll - Creio que Tom Watson Jr., que comandou a companhia entre 1955 e 1971, poderia salvá-la. Porque ele e seu pai, o fundador da IBM, foram visionários e tinham forte personalidade. Texto Anterior: O pensamento além dos muros da academia Próximo Texto: Ascensão e queda de um gigante Índice |
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