São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Segredo de relações no Japão está no sangue

The Independent
De Londres

TERRY MCCARTHY

O casal está jantando à luz de velas, com música, vinho e flores. Ela encosta o rosto no rosto dele e sussurra uma pergunta cheia de carinho:"Qual é seu tipo sanguíneo?"
Para um ocidental desavisado, uma pergunta desse tipo seria um choque, evocando imagens de acidentes, transfusões sanguíneas, doenças infecciosas e outras coisas desagradáveis.
Mas no Japão, perguntas sobre tipo de sangue vindas de um candidato a namorado ou namorada fazem parte do processo de conhecer-se melhor.
Segundo a tradição do país, a importância maior dos tipos sanguíneos não se manifesta na sala de cirurgia e sim no campo dos relacionamentos humanos, onde ajudam a decidir quem é compatível com quem.
Com o papel crucial desempenhado pela harmonia de grupo em todos os aspectos da vida japonesa, conhecer o tipo sanguíneo das pessoas é tão decisivo quanto conhecer suas origens familiares.
Consta que cada grupo sanguíneo possui características próprias. Dos quatro grupos maiores, o tipo O representa o tipo de pessoa mais extrovertida e comunicativa, que busca instintivamente liderar o grupo mas se confunde com detalhes ou trivialidades práticas.
O tipo A (de longe o mais comum entre os japoneses) é uma pessoa conservadora, possivelmente nervosa, que presta atenção aos detalhes, gosta de cooperar, busca promover a harmonia em grupo e tende naturalmente a seguir, em vez de liderar.
As mulheres de sangue tipo A costumam ser vistas (pelos homens) como parceiras e mães confiáveis.
O tipo B é individualista, às vezes excêntrico, não se preocupa com os outros e focaliza sua atenção em metas ou objetivos bem definidos.
Os tipos AB são temperamentais e arredios, divididos por traços de personalidade conflitantes –supostamente por causa da mistura de A e B. Os portadores desses tipos sanguíneos são difíceis de se conhecer melhor, mas no fundo são sinceros e costumam cumprir o que prometem.
Mas os grupos sanguíneos não são consultados apenas para as questões do coração. A maioria dos currículos padronizados japoneses inclui, ao lado de instrução, experiência de trabalho e habilidades linguísticas, um espaço para o preenchimento do tipo sanguíneo.
A análise de personalidade baseada nos tipos sanguíneos começou a ser praticada no Japão em 1916, quando um pesquisador publicou uma demonstração supostamente científica de como as pessoas de sangue tipo A seriam intelectualmente capazes.
Isso coincidiu com teorias espúrias no Ocidente, segundo as quais os tipos sanguíneos caucasianos –em sua maioria O e A– eram superiores a outros encontrados na África e Ásia, desse modo justificando o colonialismo europeu.
No Japão, a teoria acabou perdendo seu pendor racista e hoje figura no mesmo pé que a astrologia e a quiromancia.
Segundo Akahito Onishi, autor do livro "Labirinto dos Tipos Sanguíneos", os japoneses adoram ser enquadrados em tipos de personalidade segundo seus tipos sanguíneos. "Eles gostam de ser encaixados em amplos contextos", diz.
Tradução de Clara Allain

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