São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Barbara Bush faz confidências

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Durante a campanha de 1992, o então presidente George Bush costumava dizer que se a eleição fosse para primeira-dama, sua mulher seria eleita.
Ele estava certo: todas as pesquisas de opinião pública mostravam que Barbara Bush era muito mais admirada do que Hillary Rodham Clinton.
Muita dessa simpatia era atribuída à sua imagem de vovózinha que cuida da casa e dos netos e não se mete em assuntos de homem.
Em sua autobiografia recém-lançada nos EUA, a ex-primeira-dama confirma essa impressão. A maioria absoluta das 575 páginas de "A Memoir" (Sribners, US$ 25,00) está ocupada por "questões de mulher".
Ou seja: impressões de viagem, descrições de festas e banquetes, anedotas familiares, relatos de traquinagens dos netos, palavras simpáticas sobre as personalidades que visitavam os Bush.
Barbara chega a dizer ao contar como foi um fim-de-semana na sua casa de praia em Maine com a presença de políticos: "Todos estavam relaxados e dispostos a se bronzear. Mas os homens, é claro, só falavam de negócios".
Para vender um milhão de cópias, Barbara não precisaria ir muito além disso. Mas suas memórias têm algumas revelações interessantes.
Por exemplo, ela diz ter sempre discordado do marido em dois pontos importantes da agenda social americana: aborto e armas.
Ao contrário de Bush, ela é favorável ao direito da mulher praticar aborto e à restrição da venda de armas no país.
Barbara Bush também faz um relato comovente de sua crise de meia-idade. Ela diz ter passado um período de alguns meses com ímpetos suicidas, depressões frequentes, choros convulsivos.
Não procurou auxílio médico nem psiquiátrico. Confortou-se com Bush e superou o problema.
Há passagens divertidas, como o diálogo entre ela e o imperador japonês Hirohito em meio a um banquete: "Imperador, o que aconteceu com velho palácio imperial", perguntou e ele respondeu: "Receio que vocês o tenham bombardeado".
Em geral, no entanto, "A Memoir" é um escandaloso exercício de futilidades e uma prova definitiva de que os críticos dos Bush estavam certos quando os acusavam de terem governado o país sem terem qualquer noção de como é a vida do cidadão comum.
Como a princesa Diana, que recentemente disse ser incapaz de usar um telefone público, Barbara descreve no livro como foi "surpreendente" para ela a descoberta, feita depois de ter deixado o poder, de que é possível se chamar uma pizza de casa.
Em certos trechos, a ex-primeira-dama demonstra uma frieza incompatível com sua imagem. Ela termina a descrição tocante do episódio da morte de uma filha por leucemia na década de 50 com a seguinte afirmação, totalmente fora de contexto: "Financeiramente, nós tivemos muita sorte porque o nosso seguro cobriu praticamente todas as despesas".(CELS)

Texto Anterior: Segredo de relações no Japão está no sangue
Próximo Texto: Advogado prega velocidade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.