São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grades da miséria

São Paulo se esconde cada vez mais atrás de grades. Das pioneiras grades de proteção contra o crime às grades para evitar a presença indesejada de mendigos, a cidade adota soluções apenas paliativas para minorar problemas cruciais.
A população que vive nas ruas é um problema crônico das grandes concentrações urbanas. Seu número flutua de acordo com as condições gerais da economia e expressa também o somatório de tragédias e fracassos individuais de seres humanos. Sob esse ponto de vista, o problema não pode ser dissociado de sua dimensão humanitária.
Nesse sentido, não se pode deixar de condenar a ação truculenta da prefeitura paulistana, que parece estar interessada apenas em afugentar os mendigos, tomando seus objetos, como colchões e camas improvisadas, agravando o estado de penúria dessas pessoas em nome de um procedimento de eficácia questionável, para dizer o mínimo.
A ação da autoridade municipal tem como efeito apenas esconder um problema que está gritantemente na frente de todos. Age como que a esconder o que entende como "sujeira" debaixo do tapete.
Os moradores das regiões frequentadas pelos mendigos, frise-se, também são vítimas da imundície que eles promovem. Os ânimos se acirram. Na cidade hoje está sendo adotada uma "arquitetura antimendigo" –grades, prédios sem marquise, óleo queimado na porta de estabelecimentos comerciais.
Esse contexto ressalta a ação desastrada e simplista do poder municipal. É certo que o problema tem raízes profundas, acima da esfera do município, que a crise econômica só faz acentuar. Investimentos sociais que procurem encaminhar pessoas da rua para a integração social são urgentes, sob pena de a cidade, apesar das grades, ficar cada vez mais degradada.

Texto Anterior: De olho na rampa
Próximo Texto: Bacias e almas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.