São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Bacias e almas

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Deus é testemunha de que nada tenho contra portugueses e papagaios. Nem por isso deixo de apreciar as piadas em que uns e outros comparecem. Não sou eu quem inventa essas histórias –e vamos ao assunto. Manuel foi abordado por Joaquim que o avisou: "Manuel, ouvi dizer que seu filho está dando!" Pasmo, Manuel saiu para tomar providências. No dia seguinte, procurou Joaquim e esclareceu os fatos: "Você está enganado, Joaquim. Meu filho não está dando, está tomando!"
Grosseria à parte, a piada tem a ver com a decisão do governo a respeito da greve dos metalúrgicos. Deu mancada quando se intrometeu na negociação em que as partes estavam de acordo. Quando percebeu que devia tirar o time de campo armou uma explicação semântica como a do Manuel: não haveria reposição salarial, mas abono de produtividade.
Dar ou tomar, abono ou reposição, o fato é que a cancela está aberta. Cancela que nunca foi fechada para valer mas apenas encostada para cumprir o esquema eleitoral do candidato do governo. Outros dissídios estão a caminho, com classes calejadas nas negociações.
Outro dia, numa conversa de praia, ouvi de um ex-quase-ministro a inconfidência: haverá aumento de combustível à meia-noite do dia 3 de outubro.
Deve ser terrorismo de um ressentido, interessado em complicar as coisas. Mas também pode ser verdade ou estar perto da verdade: não será no dia 3, será dia 5 ou 15 –não importa, o aumento virá.
Mês passado, o Conselho que trata do setor pediu o aumento de 5% nos preços do petróleo e derivados, alegando que a Petrobrás estava com a alma na bacia das próprias –curiosa expressão vernácula que muito me distrai quando falam em vender a Petrobrás em tal bacia.
Fica o problema: haverá ou não aumento de combustíveis logo depois das urnas fechadas? Quem acertar ganha um calendário com a efígie do senador Lucena.

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