São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 1994
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Bônus de marca vão captar recursos para as empresas

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma novidade deve chegar ao mercado financeiro nos próximos meses: bônus de marca.
Objetivo do "brand bond": proporcionar às empresas que promovem seus produtos maciçamente na mídia a oportunidade de capitalizar um ativo até agora não explorado.
Para captar recursos, as empresas emitem títulos de dívida ou ações que são lastreados pelos seu patrimônio físico –imóveis, máquinas ou faturamento.
"O sistema prevê que as empresas passem a também a emitir papéis garantidos por suas principais marcas, com base em valor estimativo", revela o executivo José Roberto Martins, do Lloyds Bank.
Já existem diversas fórmulas para se dimensionar esse valor. A mais conhecida foi estabelecida pelo Interbrands Group.
Primeira consultoria internacional a desenvolver critérios de avaliação, a Interbrands considera indicadores que vão do faturamento de vendas à influência local da marca e perspectivas de globalização.
Baseada nesses cálculos, a revista "Financial World" publica um ranking anual que possibilita acompanhar o desempenho das marcas.
Em 1993, por exemplo, a marca Microsoft, de programas de computador, teve valorização de 33%, em relação ao ano anterior. Vale hoje US$ 9,2 bilhões -cifra três vezes superior à de suas vendas no período.
Foi ainda maior, de 149%, a valorização alcançada pela marca Compaq, da fabricante de computadores, estimada agora em US$ 4 bilhões.
"Os 'brand bonds' serão híbridos, algo entre um título de crédito e um título de valor mobiliário, através de uma oferta pública", diz ele, ao se referir a parecer preliminar do escritório Suchodolski Advogados.
Nessa condição, a introdução do bônus de marca no mercado necessita e será submetida ao crivo da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), órgão que fiscaliza a captação pública de recursos através de emissão de ações ou títulos da dívida.
"Seja por razões fiscais e tributárias ou mesmo por desconhecimento, a maioria das empresas brasileiras até agora não se preocupou em dimensionar o valor de suas marcas", afirma.
É um patrimônio capaz de representar trunfo importante em negociações com bancos, aquisições ou projetos estratégicos de expansão.
A marca é um ativo intangível, cujo valor real não é obrigatoriamente contabilizado. Somente o valor do bônus correspondente à dívida contraída junto aos investidores ou aos bancos deverá ser lançado no balanço.
Aplicações em papéis lastreados em produtos visíveis nas gôndolas de supermercados e publicidade representariam fator de segurança e sentimento de familiaridade com o objeto do investimento.
Martins concebeu o bônus ao observar que o potencial de marketing das empresas não é avaliada como instrumento financeiro em análises de crédito.
"Apesar disso, o reconhecimento das marcas pelos consumidores e canais de distribuição consolidados ao longo dos anos pode até sobreviver a uma empresa financeiramente deficiente", constata.
As vinte principais marcas listadas pelo "Financial World" em sua edição de agosto passado somam quase US$ 200 bilhões.
"Quando for possível estimar o mesmo ativo intangível das grandes marcas brasileiras, isso aguçará um pouco mais o interesse das empresas sobre esse tesouro hoje esquecido em seus cofres", acredita Martins.

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