São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 1994 |
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Recuo dilui dividendo político do presidente
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Depois de ter anunciado com solenidade que "o tempo dos ditadores haitianos acabou", Clinton voltou atrás e concordou em negociar. O recuo se deu porque os militares haitianos não se intimidaram com a ameaça de Clinton e porque o público e o Congresso dos EUA não se deixaram convencer pelo discurso do presidente na quinta-feira passada. Para amenizar os críticos, Clinton deu uma última chance à diplomacia com uma delegação composta por três pessoas que se opunham à invasão, uma das quais (Colin Powell) pode ser seu adversário na eleição de 1996. O acordo da missão Carter está sendo positivo para Clinton porque evitou derramamento de sangue e, parece, atingiu o objetivo de depor os militares. Mas há muitos riscos pela frente e Raoul Cedras pode se considerar tão ou mais vitorioso do que Clinton com o acordo. Cedras ganhou 25 dias de poder (no Haiti, uma eternidade), anistia geral e irrestrita para ele e todo o seu grupo, legitimidade internacional como líder do país. Além disso, não foi forçado a se exilar. Clinton ganhou todos os problemas do Haiti e de Aristide, seu único aliado haitiano, que está insatisfeito com o resultado da missão Carter. Por pelo menos seis meses, 15 mil soldados dos EUA vão fazer as vezes de policiais do Haiti e avalistas de Aristide, um homem em quem o próprio Clinton confia pouco, num ambiente cheio de inimigos e perigos. A entrada sem resistência no Haiti lembrou o desembarque na Somália, há dois anos. Clinton teve de retirar suas tropas da Somália após humilhante derrota em batalha de rua que deixou 18 mortos norte-americanos. As chances de episódios similares no Haiti são enormes. (CELS) Texto Anterior: Fita expõe diferenças entre Clinton e Carter Próximo Texto: País foi a 1ª república negra Índice |
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