São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 1994
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País foi a 1ª república negra

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Colônia mais rica da América no fim do século 18, segundo país independente no continente, primeira república negra do mundo.
A história do Haiti, no princípio, está cheia de motivos de orgulho. Depois, nos 190 anos posteriores à independência da França, é que as coisas se complicaram.
La Isla Espa¤ola foi descoberta por Cristóvão Colombo em 6 de dezembro de 1492. Era habitda pelos índios Arawak, que foram dizimados pelos espanhóis. Em 1690, eles estavam extintos.
Os espanhóis se radicaram apenas na parte oriental da ilha, hoje chamada Hispaniola, onde agora está a República Dominicana. Isso permitiu que piratas franceses passassem a operar seus negócios na parte ocidental, o atual Haiti.
Em 1664, a França se apoderou daquele pedaço da ilha e passou a chamá-lo Saint Dominique. A Espanha concordou com a hegemonia francesa em 1697.
No século 18, Saint Dominique foi a mais lucrativa colônia do império francês. Dois terços dos investimentos externos da França se concentravam ali, na produção de açúcar, café, cacau e algodão.
Em 1790, a população do país era de 556 mil: 500 mil escravos negros, 32 mil colonizadores franceses e 24 mil mulatos livres.
Os escravos começaram a se rebelar em 1791. Três anos depois, a França aboliu a escravidão. Mas os negros queriam a independência.
Em 1801, Napoleão Bonaparte enviou seu cunhado, o general Charles Leclerc, a Saint Dominique, para impor a ordem. Depois de três anos de guerra, que destruíram a infra-estrutura econômica de Hispaniola, a independência foi obtida para a ilha inteira.
O líder da rebelião negra, Jean-Jacques Dessalines, se autoproclamou rei Jacques 1º. Ele foi assassinado em 1806 e o país entrou em guerra civil. A Espanha retomou a parte oriental em 1809.
O Haiti, nome nativo da ilha adotado pelo novo regime, se dividiu em duas partes, sul e norte, reunificadas em 1820.
A França reconheceu a independência em 1825. Os EUA, apesar da doutrina Monroe, só o fizeram 37 anos depois, quando o presidente Abraham Lincoln, em plena Guerra Civil, precisava do auxílio dos países do Caribe.
A história do Haiti dali em diante foi uma sucessão de golpes, revoluções, guerras civis e intervenções norte-americanas.
O país só teve estabilidade a partir de 1957, quando François Duvalier foi eleito presidente. Médico, formado nos EUA, culto, com aparente sensbilidade para as artes, "Papa Doc" virou um dos mais cruéis ditadores da história.
Duvalier morreu em 1971 e foi sucedido pelo filho Jean-Claude, o "Baby Doc", que se proclamou, como o pai, presidente vitalício. Ele foi deposto em 1986 e o país voltou à rotina de golpes.
Jean-Bertrand Aristide foi eleito em 1990 e deposto em setembro de 1991. Exilou-se em Washington, onde tem pressionado os EUA a recolocá-lo no poder.
(CELS)

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