São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 1994
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Presidente haitiano se diz um mártir

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente de fato do Haiti, Emile Jonassaint, disse ontem que ele e o general Raoul Cedras são mártires que evitaram "a aniquilação do Haiti". Jonassaint explicou em discurso na TV por que aceitou o acordo com os EUA.
Ele disse ter aceito deixar o poder até 15 de outubro "para preservar o Estado, a nação e o povo. Eu concordei para evitar violência e um banho de sangue. A intervenção militar liderada pelos Estados Unidos foi evitada".
Jonassaint disse que, enquanto negociava com o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, ficou sabendo que "61 aviões estavam prontos para invadir o Haiti, 20 ou mais navios estavam prontos para vir e apagar" o país. O presidente disse que pensou nisso e decidiu.
O discurso de Jonassaint não citou Jean-Bertrand Aristide, que deverá assumir o poder depois de 15 de outubro.
O presidente falou do fim do embargo econômico como um dos resultados do acordo. "Esse acordo põe o Haiti novamente na comunidade das nações. Por isso, esse embargo vai ser suspenso sem demora", disse.
Boa parte da cidade de Porto Príncipe estava sem eletricidade durante o discurso. Vários grupos se formaram junto a rádios e TVs.
Segundo membros de grupos de direitos humanos, havia muita curiosidade pelo discurso porque várias versões contraditórias do acordo circulavam pela cidade.
"Agora peço a vocês, meus irmãos haitianos, que mantenham a calma. Vocês podem ir dormir agora. Não haverá invasão", encerrou Jonassaint.
Carter disse que a imagem que se divulgou de Jonassaint como uma marionete dos militares é falsa. Segundo Carter, foi Jonassaint quem forçou os militares a aceitar o acordo.
Carter disse que o acordo estava a ponto de naufragar quando a delegação americana e os militares decidiram ir até o gabinete do presidente de fato.
"Todo o pessoal dele na sala era contra, mas não houve dúvida de que sua decisão é que levaria o acordo à sua consumação", disse Carter.

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