São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Padre é o aliado mais improvável de Washigton

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Não poderia haver personagem mais improvável para levar os Estados Unidos a invadir outro país do que Jean-Bertrand Aristide.
Sacerdote católico, adepto da Teologia da Libertação, defensor de idéias socialistas, Aristide elegeu-se presidente do Haiti em 1990, com 67% dos votos, depois de uma campanha que teve no antiamericanismo uma de suas peças de resistência.
Os Estados Unidos diziam à época que ele era o "perigo público número um".
Seu opositor, o ex-ministro das Finanças Marc Bazin, tido como culto e moderado, era o candidato de Washington.
Charlemagne Peralte, o líder da guerra de guerrilhas contra os Estados Unidos no início do século, era citado com frequência nos discursos do Aristide candidato, como um mártir da pátria e exemplo a ser seguido.
Aristide, 40, comanda seu governo no exílio de Washington. Vive em apartamento de um quarto no bairro de Chinatown. Assim que chegou, cometeu a imprudência de alugar um local maior na vizinhança chique de Georgetown.
Mesmo com a mudança para um local mais modesto, Aristide ainda é acusado por adversários de viver "no luxo" em Washington.
Ele admite já ter gasto US$ 15 milhões dos US$ 35 milhões das contas haitianas nos Estados Unidos congeladas pelo governo norte-americano e colocados à sua disposição para manter embaixadas e diplomatas pelo mundo.
Mas nega com veemência que ele ou qualquer de seus aliados tenha mais do que o mínimo indispensável para sobreviver.
Suas relações com o governo dos EUA têm sido muito tensas. Ainda em abril deste ano, ele acusou a política de Clinton para o Haiti de ser "racista" e contribuir para o "holocausto" em seu país.
Em outubro do ano passado, documentos da CIA (serviço secreto americano) sobre Aristide foram vazados para a imprensa.
Neles, o presidente no exílio é caracterizado como instável, megalomaníaco, dependente em drogas e violento.
No Departamento de Estado, o adjetivo mais leve que os diplomatas usam para defini-lo em conversas reservadas é "intratável".
Em público, Aristide passa uma imagem de suavidade: fala baixo, devagar, de uma forma que muitos caracterizam como afeminada.
Solteiro, culto, fluente em seis línguas, bom violonista, tem entre seus principais aliados nos EUA o deputado Joseph Kennedy, filho do senador Robert Kennedy.
Também são seus frequentes conselheiros o reverendo Jesse Jackson e o senador Tom Harkin.
Em Washington, Aristide afirma ter conhecido melhor a biografia de Martin Luther King Jr., um dos principais inspiradores de movimentos políticos não violentos neste século, agora no topo da lista pública de ídolos do presidente do Haiti no exílio.
(CELS)

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