São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 1994
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Comandante promete menos repressão

CLÁUDIO JULIO TOGNOLLI
DO ENVIADO ESPECIAL

O homem-forte do Haiti, general Raoul Cedras, prometeu ao general norte-americano Henry Shelton que tomaria medidas para que sua polícia não mais cometa atos de violência contra a população.
Cedras perdeu o controle de suas forças policiais, que diariamente estão espancando civis no centro de Porto Príncipe.
Ontem o governo militar liderado por Emile Jonassaint proibiu que grupos se concentrem diante do porto onde chegam os navios com tropas dos EUA.
O aeroporto foi cercado com redes de arame farpado e na porta principal armaram-se dois nichos de metralhadoras M-50.
Mas o clima de tensão começou a se dissipar com a volta do fornecimento de energia elétrica e água em Porto Príncipe.
O porta-voz militar dos EUA, coronel Barry Willey, anunciou que Shelton e Cedras acertaram o desarmamento e a ocupação do quartel da principal unidade do Exército haitiano.
O cenário aéreo também se acalma: os aviões C-5 Galaxy e C-130 Hércules, que traziam pára-quedistas, deixaram de cruzar os céus da capital, assim como os helicópteros Blackhawk, Cobra e Sikorsky.
O general David Meade, segundo no comando da força invasora, disse que grupos de "marines" começariam a deixar seus navios para patrulhar as ruas da capital.
Os EUA começaram a distribuir entre os habitantes de Cité Soleil 1 milhão de refeições. Moram e passam fome nessa favela entre 1 milhão e 1,5 milhão de pessoas.
Nas ruas, a população está dividida. Comemora-se a distribuição de comida e os militares americanos são vistos com simpatia, mas teme-se a volta dos grupos paramilitares que até ontem haviam matado duas pessoas diante de tropas dos EUA –que nada fizeram.
Às 10h, a declaração de Shelton de que os EUA não vão interferir em "assuntos internos" do Haiti começou a ser divulgada pelas rádios. "Se não temos a segurança dos norte-americanos, de quem vamos ter?", disse o desempregado Jean Pierre Doson, 32, pai de quatro filhos que pede esmolas em frente ao hotel Ville Louis, a 100 metros da embaixada brasileira.
O comércio começou a se restabelecer, após dois dias de recesso. A população ainda teme sair à noite, porque pode ser morta pelos "tonton macoutes" e pela polícia.
Os "macoutes" continuam se encontrando diariamente na telefônica estatal Teleco e no restaurante Dieu Kui a Donne, no centro de Porto Príncipe.
(CJT)

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