São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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Um ano e muitas lições

JUNIA NOGUEIRA DE SÁ

Na última terça-feira, 20 de setembro, completei um ano de mandato como ombudsman da Folha. No mesmo dia, o cargo completou cinco anos de existência no jornal. Mas, ao contrário dos dois ombudsmen que me antecederam aqui, meu mandato não está sendo renovado. A partir da próxima quarta-feira, a Folha tem um novo ombudsman: o jornalista Marcelo Leite.
Como o leitor já deve saber, os ombudsmen da Folha têm mandato de um ano renovável, de comum acordo entre a Direção de Redação e o próprio ombudsman, por apenas mais um ano. Desde o início, minha intenção era permanecer no cargo por todo esse período. No final de agosto, a um mês do encerramento de meu mandato, a Direção de Redação manifestou sua intenção de me manter no cargo por mais um ano, o que publicamente quero agradecer. Mas algumas questões de ordem particular (e inadiáveis) acabaram me fazendo desistir da idéia –e, confesso, não foi fácil.
Ser ombudsman da Folha, um jornal de quase 1,5 milhão de exemplares aos domingos, é uma responsabilidade enorme e, ao mesmo tempo, um trabalho fascinante. Ao longo de um ano, mais de 7.000 leitores me procuraram para falar do jornal: fazer queixas, apontar erros, reclamar de falhas (eventualmente, um elogio também chega ao ombudsman). Também ao longo de um ano, participei de 27 eventos como palestras, seminários e debates com estudantes, jornalistas e profissionais de outras áreas, no Brasil e fora dele. O que aprendi, nesse ano, vale por dez.
O leitor tem uma visão do jornal que muitas vezes nós, jornalistas, não conseguimos imaginar –exatamente porque, no dia-a-dia, estamos distantes dele. A maneira como esse leitor critica e aponta defeitos é precisa, e surpreendente. Ao longo desse ano, tentei informar o máximo possível a Redação da Folha sobre suas opiniões, suas queixas, suas expectativas em relação ao jornal. Afinal, quem melhor do que um leitor para saber o que é um bom jornal?
Como ombudsman, também pude observar a Folha de uma perspectiva nova: a de sua responsabilidade social. Impressiona perceber, nas cartas e nas conversas com os leitores, quanto eles acreditam no que lêem, quanto dependem dessas informações e quanto um erro pode causar de estragos e problemas. Impressiona perceber que, no dia-a-dia da redação, muitas vezes nos esquecemos disso –de que todo erro, num jornal, desmonta parte dessa credibilidade construída com enorme sacrifício.
No balanço final, só posso dizer que foi uma experiência enriquecedora (todo jornalista deveria ser ombudsman por uma semana, para ouvir as críticas diretamente do leitor; é pedagógico). O convívio com a Direção e a Secretaria de Redação da Folha foi o melhor possível, e a ambos devo a possibilidade de fazer um trabalho livre de quaisquer interferências.
Também o convívio com a Redação foi excelente: recebi mais de 80 respostas e observações à crítica interna ao longo deste ano, o que facilitou a discussão de temas que só melhoram a qualidade final do jornal. Se posso fazer um reparo, entretanto, gostaria que a Redação tivesse sido mais eficiente nas respostas às questões levantadas pelos leitores. Em média, elas demoram até um mês para serem atendidas pela Redação –o que, num jornal diário, é uma eternidade.
Até terça-feira, continuo sendo a ombudsman da Folha. Na quarta, entrego o cargo a Marcelo Leite, um jornalista competente e experiente, e no fim-de-semana saio para alguns poucos dias de merecidas (permita-me, leitor) férias. Nelas, vou fazer a coisa de que mais gosto: ler muito, e ler jornais. Se encontrar problemas, telefono para o ombudsman da Folha, pode acreditar.

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