São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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Brizola despreza marketing político

FERNANDO MOLICA
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

A presença do pedetista Leonel Brizola para o segundo turno das eleições presidenciais representaria um golpe em todas as modernas técnicas de marketing político.
Durante quatro meses de campanha, Brizola fez o oposto do que manda o figurino.
Ainda no final de maio, pouco antes de ser aclamado candidato do partido, Brizola, em reunião no Rio com lideranças do PDT de todo o país, avisou que sua campanha seria inspirada em uma outra, vitoriosa em 1950 –ano em que a televisão era inaugurada no Brasil. A campanha era a de Getúlio Vargas, vencedor das eleições que o levaram de volta à Presidência.
Brizola não apenas inspirou-se no estilo getulista, mas em sua plataforma. Durante a campanha, o pedetista rechaçou quase todas as propostas que contrariavam ou amenizavam dogmas trabalhistas, como o nacionalismo e a presença do Estado na economia.
Para Brizola, até Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, reza pela cartilha neoliberal.
Em meados de julho, a campanha brizolista ganhou o reforço de um insituto de pesquisa –Toledo & Associados.
O instituto seria responsável pela análise das prévias eleitorais e iria sondar, por meio de pesquisas qualitativas, as reações do eleitorado à campanha do PDT.
O auxílio não durou muito tempo: foi derrotado pela falta de dinheiro do PDT e pela insistência de Brizola em não abrir mão do que ele considerava "questões de princípio".
O candidato recusou a sugestão de evitar críticas ferozes ao Plano Real. A proposta da Toledo era de que Brizola procurasse apresentar-se como um oposicionista capaz de, na Presidência, viabilizar e aperfeiçoar o plano.
Brizola recusou, apesar dos indícios de que, ao contrário de sua candidatura, o Plano Real estava sendo muito bem aceito pela população.
Confiante na sua intuição ("somos os reis da improvisação", costuma dizer), Brizola conduziu a campanha baseado em seu bom senso.
Isto fez com que, uma vez, ele dedicasse todo um domingo para ir a Barreiras, no interior da Bahia, quase na fronteira com Tocantins, para uma visita que limitou-se a um churrasco com gaúchos e duas entrevistas para rádios locais.
Durante toda a campanha, sua agenda foi um mistério. Sua assessoria praticamente não conseguia divulgar os eventos de que participaria com uma antecedência superior a 24 horas.
Mesmo depois de confirmada, a programação podia ser alterada: às 13h50 de terça-feira passada, ele avisou ao PDT mineiro que não iria cumprir uma programação no Estado.
Sua chegada a Minas estava prevista para as 13h30 daquele mesmo dia. Dois dias depois, adiou uma viagem ao Rio Grande do Sul com menos de 12 horas de antecedência.
Entre as viagens a Minas e ao Rio Grande do Sul ele iria ao Rio Grande do Norte e Maranhão: no dia previsto ele viajou, mas para Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins.

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