São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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'Procuro uma pessoa que possa adotá-lo'

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A auxiliar de enfermagem Eunice, 25, pegou o vírus há cinco anos do marido, um caminhoneiro de Minas Gerais usuário de drogas. Tem um filho, Fernando, de 1 ano e 7 meses, que não apresenta mais resultado positivo nos testes de HIV. Eunice trabalhava na Santa Casa de São Paulo até oito meses atrás. Com os primeiros sinais da doença, está abrigada em uma casa de apoio.
"Estou procurando uma pessoa que possa adotar o Fernando, é só isto que me preocupa. Um casal sem filhos já veio visitá-lo. Parece que os dois estão gostando dele.
Eu fico com ele enquanto puder cuidar, depois passo ele de papel passado. As pessoas dizem que eu não gosto do menino, mas estou fazendo isto só porque gosto dele. Quero morrer tranquila.
Quando fiquei grávida, eu já sabia que estava com o vírus. Me arrependo de ter tido o Fernando, me arrependo por ele. Ele me dá força, mas essa força não vai me curar. Uma hora ele vai ficar sozinho.
Quando conheci meu marido ele já estava infectado, mas não sabia. Morreu nove meses depois que meu filho nasceu. Eu já tive pneumonia, tuberculose, meu fim pode estar próximo. Eu me pergunto o que será do menino.
Eu aconselho as mães portadoras do vírus a não ficarem grávidas. Mais cedo ou mais tarde a doença vai pegar você, vai matar você. Se o filho estiver com a doença, aí morrem os três, o pai, a mãe e a criança. Se não estiver, ele vai ficar órfão."
(AB)

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