São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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'Tenho a sensação de que vou viver'

AURELAINO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cléa, 30, se infectou há três anos usando drogas. Tem duas filhas. Gisele, 2 anos, não tem o vírus da Aids; Helen, 2 meses, ainda apresenta teste positivo. Até os 18 meses, a criança ainda conserva os anticorpos da mãe. Só depois deste tempo se saberá se Helen tem ou não o vírus da Aids.
"Se eu não tivesse as filhas, estaria por aí, vivendo por viver, tomando drogas. Peguei Aids injetando na veia. O pai da Gisele também se picava. Está por aí.
Fiquei sabendo que estava com o vírus no pré-natal da Gisele. Quando ela nasceu, eu só pensava no risco desta doença. Meu medo era que ela tivesse o vírus. Foram 18 meses de ansiedade, cada consulta no médico era um sofrimento. A Gisele foi tão importante que mudou minha vida. Quando senti ela na barriga, decidi parar de fumar e usar droga. Nem precisei de internação, decidi parar e pronto. E olha que eu tomei droga por muito tempo.
A segunda gravidez foi um descuido, não era esperada, o pai é outro. Tenho medo que a Helen fique com o vírus. Os anos passaram, minha doença já está aparecendo. Mas tenho a sensação de que vou viver para cuidar das duas, deixar elas crescidas. Vejo gente que sobrevive até 15 anos com o vírus. Vou viver muito mais.
Quando a Helen nasceu eu percebi que tinha mais duas pessoas para lutar e que não podia morrer. Pensar na morte a gente pensa sempre. Me sinto bem, com muita força, mas sei que um dia posso faltar.
As meninas já estão encaminhadas. Uns padrinhos já falaram que ficam com a Gisele. Um casal de voluntários disse que pega a Helen. Só peço para ela não cair doente, porque aí ninguém vai querer ficar com a menina."
(AB)

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