São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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CENTRALIZAÇÃO

ANTONIO CARLOS SEIDL

O programa de reestruturação da Estrela teve início em 1992. Como outras empresas, atingidas pela recessão resultante dos planos econômicos do governo Collor, a Estrela achou que estava com 'gorduras' excessivas.
A reestruturação envolveu modificações muito grandes. O número de diretores foi reduzido de 11 para cinco. Menos níveis hierárquicos criaram facilidade de diálogo.
Também centralizamos nossas operações com a fusão ou extinção de seções para criar mais rapidez operacional e sempre, é óbvio, visando a diminuição de custos.
Tínhamos vários escritórios e depósitos espalhados por São Paulo. Trouxemos tudo para a nossa sede no Parque Novo Mundo. A economia com aluguéis gerada pela centralização é de US$ 800 mil por ano.
O número total de funcionários foi reduzido de 4 mil para 2,5 mil e passamos a usar a terceirização para várias atividades, como entregas, costura, serviços aos acionistas e segurança.

ELETRÔNICA
O resultado prático da reestruturação foi o surgimento de uma empresa mais ágil. Decidimos, então, ampliar nossos negócios. Abrimos mais uma fábrica em Manaus e entramos, junto com a Gradiente, no setor dos videogames, criando a Playtronic.
Foi uma entrada, talvez, um pouco tarde nesse setor. Mas queríamos fazer uma associação com a empresa líder em videogames, a Nintendo, do Japão. Isso exigiu uma negociação lenta e longa.
A Nintendo foi muito cautelosa. Criou uma série de dúvidas porque seríamos os únicos parceiros dela no mundo que estaríamos fabricando o hardware fora do Japão.
Preocupados com seu compromisso com um alto nível de qualidade, os japoneses não confiavam que um novo parceiro, principalmente no Brasil, que viam como um país subdesenvolvido, conseguiria fazer um trabalho que atendesse seus rigorosos padrões de qualidade.
Mas, afinal, os japoneses concordaram com minha sugestão de criar a Playtronic. Hoje, eles estão muito satisfeitos.

FATURAMENTO
A reestrutração possibilitou a volta ao lucro depois de três anos de prejuízos. Em 90, 91 e 92, tivemos prejuízo de US$ 11 milhões, US$ 31 milhões e US$ 14 milhões, respectivamente.
Em 1993, obtivemos lucro de US$ 3,3 milhões para um faturamento de US$ 200 milhões, mesmo com a redução de 10% de preços médios. Isso representou um crescimento de 43% sobre o faturamento de US$ 142 milhões de 92.
A nossa expectativa para 94 é aumentar em 30% o faturamento e em 20% as exportações. Em 1993, a Estrela exportou US$ 13 milhões para quase toda a Europa Ocidental e EUA contra US$ 11 milhões em 1992.
Passamos a ter um diálogo muito mais próximo com os nossos clientes. Criamos parcerias verdadeiras com clientes e também com os nossos fornecedores.
Os fornecedores, agora, participam muito mais das nossas necessidades. São avisados com antecedência dos nossos planos e dão sugestões, principalmente no setor de embalagens, permitindo economia de papel.

ABERTURA
A inclusão de brinquedos na redução de alíquotas de importação parece um equívoco por vários fatores.
No índice de custo de vida, os brinquedos ocupam uma porcentagem ínfima. Não há falta de brinquedos no mercado. Não há aumento de preços -ao contrário, pois em 1993, a Estrela reduziu os preços, em dólares, em 30%- . Há alguns meses, foi firmado um acordo com o governo, em câmara setorial, em que ficou acertado que a alíquota de importação de 30% seria mantida até 1º de janeiro de 1996 e a indústria contrataria mais mão-de-obra, reduziria os preços dos produtos e aumentaria as exportações.
A indústria de brinquedos está cumprindo sua parte no acordo. Por isso, insisto que a medida é, aparentemente, um equívoco.

DOIS DIAS
A indústria espera que a Comissão Interministerial de Comércio Exterior promova a revisão da redução do Imposto de Importação para os brinquedos.
Estamos esperançosos porque entendemos que a inclusão dos brinquedos na redução de alíquotas foi um lapso porque a indústria de brinquedos é sazonal.
O ponto alto das vendas são duas datas -o Dia da Criança e o Natal. As fábricas, todas nacionais, estão trabalhando para esses dois dias e, de repente, cai essa notícia sobre uma indústria que vive de dois dias.
O faturamento da indústria de brinquedos no primeiro semestre é aproximadamente 25% do ano todo. Do jeito que está agora, existe a possibilidade de trazer brinquedos de fora para o Natal.
E já temos um grande problema com o contrabando. Existe também o subfaturamento de importações, que é uma concorrência desleal e afeta a arrecadação de impostos.

SEGURANÇA
Um problema da importação indiscriminada de brinquedos é a segurança dos produtos. A indústria brasileira tem um selo do Instituto Brasileiro de Qualidade. Esse selo só é dado aos brinquedos que atendem as normas de segurança, que fazem parte do Código de Defesa do Consumidor.
São normas de qualidade do produto para proteger as crianças. Se, por acaso, o produto tiver algum problema técnico, o fabricante se responsabiliza. Com o brinquedo importado não é bem assim. Ao comprar um brinquedo importado 'popular' o consumidor fica também sem assistência técnica e não tem a quem reclamar caso haja um defeito de fabricação.

IMAGEM
A Estrela vai usar sua reputação conquistada em 57 anos de existência para lutar contra as importações. Vamos recorrer à nossa imagem de qualidade, criatividade e de atendimento leal ao consumidor para mostrar que aqui existe brinquedo tão bom ou melhor do que os importados.
Vamos investir forte no Dia da Criança. Um total de US$ 9 milhões em publicidade e desenvolvimento de novos produtos.
Vamos gastar US$ 5 milhões em uma campanha específica para o Dia da Criança com anúncios na TV e na mídia impressa, além de ações promocionais. Com investimentos de US$ 4 milhões estamos lançando mais de cem brinquedos para meninos e meninas.

QUALIDADE
A Estrela é a única empresa fabricante de brinquedos do Brasil a ter conquistado, há cerca de um ano, o certificado de qualidade ISO 9002.
Na verdade, a Estrela iniciou a busca de qualidade total em seus produtos em 1966 quando começou a exportar para os EUA e Europa Ocidental.
Como queríamos entrar neste campo das exportações passamos a adotar as normas internacionais porque, no Brasil, naquela época, não existia norma nenhuma de fabricação.
A Estrela aderiu à cultura da qualidade, portanto, há 28 anos. Mas como queremos continuar avançando neste campo, não só no produto como também no ambiente de trabalho e na mentalidade da empresa, adotamos o programa ISO há dois anos.
Nosso laboratório foi rapidamente aprovado pelo Instituto de Metrologia, representante ISO no Brasil, e obtivemos a certificação ISO 9002.

RESPONSABILIDADE
O comprometimento da administração é de fundamental importância para a política de qualidade da Estrela. O sistema de qualidade é baseado no Manual de Garantia de Qualidade que está disponível em todas as áreas.
A análise crítica do produto é coordenada pela área de marketing que faz o perfil do produto.
Outros itens da política de qualidade são o controle de documentos, a inspeção de recebimento dos produtos de fornecedores, acompanhamento de materiais ao longo do processo produtivo por meio de sistema informatizado, fichas técnicas e boletins operacionais que definem todas as operações para produção, auto-controle na área de produção, inspeção, medição e ensaios pela área de metrologia da engenharia da qualidade, controle de produtos não conformes, ações corretivas, auditorias internas e treinamento.

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