São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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Alemão só é punido após abrir vantagem

FIA ignorou infração de Schumacher

MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Federação Internacional de Automobilismo ignorou uma infração cometida por Michael Schumacher durante o GP do Brasil, realizado em São Paulo no dia 27 de março.
Na volta de apresentação, o alemão ultrapassou o brasileiro Ayrton Senna, o pole position da prova, e percorreu toda a reta oposta do circuito de Interlagos à frente do Williams.
O regulamento da Fórmula 1 proíbe que o pole position seja ultrapassado na volta de apresentação.
Mas a FIA não tomou nenhuma providência quanto à irregularidade cometida pelo alemão no GP Brasil.
No GP da Inglaterra, no dia 10 de julho, quando Schumacher já disparava na classificação do Mundial de F-1, o alemão da Benetton voltou a cometer a mesma falta.
Desta vez, o pole era o inglês Damon Hill, da Williams, e a FIA resolveu agir.
Durante a prova, o alemão foi penalizado com um "stop & go" devido à infração da volta de apresentação.
Com isso, deveria entrar nos boxes, parar completamente o carro, esperar cinco segundos e voltar à prova.
Schumacher e a equipe Benetton ignoraram a pena e o piloto seguiu na prova. A direção da corrida resolveu, então, desclassificar o alemão e lhe mostrou a bandeira preta, para que abandonasse o GP.
Mas a Benetton agiu rapidamente e conseguiu, junto à direção da prova, anular a bandeira preta. Schumacher acabou cumprindo o "stop & go" e terminou a prova em segundo.
A FIA, porém, não se conformou com a manobra da Benetton. Desclassificou Schumacher da corrida, eliminando os pontos que o alemão havia conquistado, e ainda suspendeu o piloto por dois GPs.
A escuderia recorreu da decisão. Nada adiantou. O Tribunal de Apelação da entidade confirmou a suspensão, que Schumacher acaba de cumprir na prova de hoje, no Estoril.
A diferença no rigor da FIA, que primeiro ignorou a falta do piloto da Benetton no GP Brasil e depois o puniu severamente no GP inglês, pode ter algumas explicações.
Em primeiro lugar, não haveria interesse para a entidade punir o único piloto capaz de ameaçar a aparente invencibilidade da dupla Ayrton Senna/Williams logo na primeira prova do campeonato.
Schumacher era a esperança de conferir alguma emoção a um Mundial que já parecia ter dono. E emoção significa público, o qual atrai patrocinadores.
Depois, com a morte de Senna, vieram as exigências por medidas de segurança na F-1.
Flavio Briatore, o "capo" da Benetton, apoiou uma greve de pilotos e entrou em rota de colisão com o presidente da FIA, Max Mosley.
Mais tarde, com Schumacher disparado na liderança do campeonato, nada como um "deslize" do alemão para afastá-lo de algumas provas.
O piloto não poderia, então, conquistar o título muito antes do final do campeonato, o que esvaziaria o interesse pelas últimas provas.
A infração de Schumacher no GP da Inglaterra serviria, então, perfeitamente aos interesses da FIA. Se o inglês Damon Hill vencer hoje, fica a um ponto do líder e esquenta a luta pelo título no fim da temporada.
Por outro lado, a entidade perdeu a chance de punir exemplarmente a Benetton no caso do incêndio do carro do holandês Jos Vertappen, no GP da Alemanha.
A variação no tratamento dado à Benetton tende, então, a mostrar que o regulamento da F-1 pode ser interpretado de diversas maneiras numa só temporada.

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