São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Organizadora fala dos riscos editoriais da coleção

AUGUSTO MASSI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A professora e crítica literária Berta Waldman, uma das três responsáveis pela coordenação da coleção "Matéria de Poesia", expõe as vertentes básicas do projeto e comenta os cinco títullos já editados.

Folha - Por que uma coleção de poesia?
Berta Waldman - Dizer que existem as maiores dificuldades em editar poesia não é nenhuma novidade. As editoras em geral arriscam publicações avulsas (como a Noa Noa, a Brasiliense, a Iluminuras, a Companhia das Letras), mas bancar uma coleção a longo prazo já é tarefa que não anima muitos .
Por outro lado, quando se pensa numa editora universitária, supõe-se que caiba a ela uma margem de risco mais ampla.
Folha - Como essa idéia germinou?
Berta - Com a assessoria de três professores do Departamento de teoria literária (Iumna Maria Simon, Vilma Arêas e eu), pensou-se numa coleção que se desdobrasse em várias faces, e que desse conta de apresentar ao leitor tanto a poesia inédita de boa qualidade quanto a poesia já publicada e de difícil acesso. Aí se pensou: por que não a poesia traduzida e a crítica de poesia feita por poetas? Da discussão resultaram, então, essas quatro vertentes: poesia inédita, reedições de obras relevantes, poesia traduzida e metapoesia.
Folha - E o nome da coleção "Matéria de Poesia"?
Berta - A discussão foi brava. Pensou-se de "Odradek", o objeto inútil de Kafka, à pedra mágica Muiraquitã. Mas, esses nomes eram muito marcados e poderiam, de alguma forma, limitar o sentido da coleção. Pensamos então num título mais neutro no qual coubessem as vertentes que julgamos interessantes. No final, acabamos usurpando inadvertidamente um título de um dos livros do poeta Manoel de Barros.
Folha - Qual o critério da escolha?
Berta - A dificuldade maior de um critério de valor se refere à poesia emergente, onde uma certa margem de risco é inevitável. É imensa a quantidade de inéditos que temos recebido, e estamos fazendo uma garimpagem desse material.
Folha - E como foi a escolha de Zuca Sardan?
Berta - O Zuca pertence a uma categoria curiosa, aliás, como muitos poetas nossos: conhecidos de um público mais especializado, quase se pode aplicar a eles o rótulo de inéditos. Zuca é conhecido desde a coletânea "26 Poetas Hoje", organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, em 76, e esteve a pique de ser publicado pela Brasiliense, em 91. Estava mais do que na hora de ele ser conhecido por um público mais amplo.
Folha - Quem vocês estão pensando reeditar?
Berta - "Poemas", de Maria Ângela Alvim, já está na praça, e agora está no nosso horizonte republicar alguns poetas árcades e românticos. A edição crítica de Álvares de Azevedo, por exemplo, feita por Péricles Eugênio da Silva Ramos, já está conosco.
Folha - E o lançamento do livro do Cacaso?
Berta - "Não Quero Prosa"e está sob o encargo de Roberto Schwarz, e prestes a ser entregue à editora. Nele, o autor trata de poetas variados, principalmente contemporâneos. Nós estamos também interessados em publicar a poesia inédita do Cacaso.
Folha - Há previsão quanto à poesia traduzida?
Berta - Pretendemos tanto reeditar boas traduções já esgotadas, como solicitar a tradutores de reconhecida competência a organização de antologias de poesia contemporânea: inglesa, norte-americana, francesa, alemã, hispano-americana. Yara Frateschi Vieira já está organizando uma antologia da poesia galega. E m outubro serão entregues ao público os poemas do poeta argentino, radicado no Brasil, Néstor Perlonger, falecido recentemente.
Folha - Quais os livros já publicados em 1993 e qual a previsão para 1994?
Berta - Os publicados são "Osso do coração", de Zuca Sardan; "Poemas", de Maria Ângela Alvim; "Cuidado Silêncios Soltos", de Mário Jorge e "Ás de Colete", também de Zuca Sardan.
Folha - Como é trabalhar em equipe?
Berta - Em primeiro lugar é de se ressaltar a posição de Eduardo Guimarães, que nos deu carta branca para o trabalho. Achamos interessante sermos três as responsáveis. Isto quer dizer que nem sempre estamos de acordo, e o número ímpar, na hora da escolha, desempata .

Texto Anterior: Poemas do riso e do silêncio
Próximo Texto: A era dos deuses
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.