São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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O BRASIL VAI À FEIRA

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Uma montanha de livros à margem do Meno": assim a imprensa alemã se refere à 46ª edição da Feira de Livros de Frankfurt, que será aberta no próximo dia 5, o maior evento editorial do mundo. Não há exagero nisso: são nada menos que 321.975 títulos expostos, dos quais 88.891 são novos lançamentos.
O número de expositores bateu este ano o recorde do evento: são 8.624 (8.464 em 93), vindos de 105 países (96 no ano passado). Para se ter uma idéia do que isso significa, basta lembrar que na Bienal do Livro de São Paulo, em agosto, havia 725 expositores, de 14 países. Há outra diferença essencial entre as duas feiras: em Frankfurt não se vendem livros no varejo, só direitos de publicação.
O fato de o Brasil ser o país-tema da feira este ano se dilui um pouco nesse mar de números. O estande coletivo brasileiro, no pavilhão 4, terá 96 editoras. A média dos anos anteriores, de acordo com Alfredo Weiszflog, da Câmara Brasileira do Livro, era 25.
Mas, além do estande das editoras, o Brasil marca presença no Halle 1.2, em cinco módulos expositivos que ocupam uma área de 3.100 m2 e buscam oferecer um panorama multifacetado da cultura brasileira.
Haverá também uma série de eventos culturais paralelos espalhados pela cidade de Frankfurt (leia abaixo) e encontros com escritores brasileiros por todo o país. Ao todo, 60 autores nacionais devem ir à Alemanha durante a feira.
Novas tecnologias
Outros dois grandes temas disputam com o Brasil a atenção dos visitantes da Feira de Frankfurt: as novas tecnologias de edição e leitura (CD-ROM, videotexto etc) e o mercado editorial do Leste europeu (leia entrevista do diretor da feira nesta página).
Os países com maior representação na feira são a própria Alemanha (nada menos que 2.215 expositores), a Grã-Bretanha (900, sem contar os do estande coletivo) e os Estados Unidos (756).
A proporcionalmente pequena presença brasileira na feira –mesmo no ano em que o país é seu tema central– reflete a pequena penetração dos livros brasileiros no mercado alemão: menos de 0,4% do total de obras traduzidas.
As grandes estrelas do país na feira deverão ser Paulo Coelho e Chico Buarque –autores que já tiveram suas obras traduzidas em várias línguas. Eles dividirão a atenção dos visitantes com estrelas discretas como o jornalista polonês Ryszard Kapuscinski, o romancista polaco-americano Louis Begley e o escritor e ex-ministro da Cultura espanhol Jorge Semprún, que receberá o Prêmio da Paz, no valor de 25.000 marcos (cerca de US$ 16 mil).
Ao que tudo indica, não haverá na feira megaestrelas das letras como foram Umberto Eco e Gabriel Garcia Márquez em anos anteriores. O nome de uma "personalidade-surpresa" convidada pela feira está sendo mantido em sigilo. Cogita-se que possa ser um dos dois escritores condenados à morte por fundamentalistas islâmicos: a feminista bengali Taslima Nasreen ou o indiano Salman Rushdie.
Projeto Frankfurt
Para chamar o máximo de atenção para o Brasil e sua cultura, o comitê organizador da participação brasileira –do qual fazem parte representantes dos ministérios da Cultura e Relações Exteriores, da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros– gastou US$ 8 milhões.
"Todo o projeto foi montado em parceria", diz Lindoso. "Normalmente, o país-tema apenas aluga os espaços para realizar seus eventos. Nós, ao contrário, fizemos um levantamento das instituições culturais de Frankfurt e fomos procurar aquelas cujo perfil tinha a ver com o que queríamos realizar. Elas assumiram a programação e dividiram os custos."
As caras do Brasil
O foco central da presença brasileira em Frankfurt serão os cinco módulos montados no Halle 1.2, um dos pavilhões principais da feira. São estruturas semicirculares e intercomunicantes projetadas pelo arquiteto Bernardo Figueiredo.
Em cada módulo, através de fotos, painéis e vídeos, será apresentado um aspecto da vida brasileira. No primeiro módulo será mostrada a paisagem geográfica (natural e urbana) do país. No segundo, "o brasileiro enquanto multidão": manifestações políticas, festas populares como a do Círio de Nazaré, estádios lotados.
No terceiro módulo aparecem imagens do cotidiano: posturas, modos de se divertir, moradias, transporte etc. No quarto, imagens do trabalho. No quinto, "as caras do brasileiro": o índio, o negro, o português, os vários rostos mestiços, além de fotos da imigração.
Embora seja predominantemente visual, essa mostra multifacetada terá, em cada módulo, livros referentes ao tema correspondente.
Um assunto que chegou a gerar polêmica foi o dos escritores escolhidos para ir a Frankfurt. Tanto a CBL como o principal parceiro alemão do projeto, a Casa das Culturas do Mundo, negam a existência de listas feitas previamente. Segundo essas entidades, a relação de autores formou-se naturalmente: uns vão por conta própria, outros são levados por suas editoras ou organismos diversos. Nessa curiosa caravana civilizatória cabe quase todo mundo.

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