São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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Diretor da feira quer evitar imagem exótica

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Ler é conhecer o outro –e conhecer o outro é uma necessidade premente em nossos dias", afirma Peter Weidhaas, diretor da Feira de Livros de Frankfurt. Segundo ele, esse é o espírito que funda a idéia de escolher a cada ano um país-tema para o evento. "Sempre tentamos criar maneiras novas e interessantes de nos comunicar com outras nações, outras culturas, outros países."
Nesta entrevista, concedida por fax, de Frankfurt, Weidhaas diz à Folha que a opção pelo Brasil com tema deste ano (definida já em 1991) foi "uma escolha óbvia". Segundo ele, o tema de 1995 será a Áustria. "Para o ano seguinte já há uma fila de candidatos, mas nada ainda foi decidido."(José Geraldo Couto)

Folha - Por que o Brasil foi escolhido como país-tema da feira este ano?
Peter Weidhaas - Porque achamos que o Brasil, com sua rica literatura e cultura, é um país que vale a pena conhecer melhor.
É a terceira vez que a feira volta sua atenção para a América Latina: em 76, quando começaram os focos temáticos, o tema foi a América Latina como um todo. Em 92, o México tornou-se o país-tema, e era óbvio que o Brasil seria a escolha seguinte: ele é –economicamente falando– o mais importante "país literário" no subcontinente, com uma indústria editorial que é a sétima do mundo.
Sua literatura, com escritores como Jorge Amado e Guimarães Rosa, para citar apenas dois que obtiveram reputação internacional, é extraordinária e há um batalhão de novos escritores que merecem reconhecimento internacional.
Folha - O sr. diria que os laços culturais entre Brasil e Alemanha serão reforçados em consequência da feira, ou existe uma tendência à queda de interesse pelo país depois do evento?
Weidhaas - Claro que esperamos que o tema tenha um impacto nos laços culturais entre os países. Em conexão com a feira, haverá mais de 300 leituras, exposições, peças teatrais, debates, concertos etc. mostrando as artes e a cultura brasileira –e não apenas em Frankfurt, mas em toda a Alemanha. Portanto estou certo de que teremos um "outono brasileiro" na Alemanha este ano. Mas, evidentemente, os laços entre países têm de ser alimentados constantemente. E isso é um esforço que deve ser assumido por indivíduos e instituições de ambos os lados. O que esperamos como resultado da feira é que as pessoas vejam o Brasil com um pouco mais de interesse e curiosidade cultural que antes.
Folha - É verdade que os livros brasileiros representam 0,7% dos títulos traduzidos para o alemão? Quais são as perspectivas de mudança desse quadro?
Weidhaas - Não estou seguro de que esses dados estejam certos. Em 1993, 30 obras literárias escritas em português foram traduzidas para o alemão –mas isso, é claro, inclui escritores de Portugal, Moçambique etc. Esses títulos representavam 0,4% das traduções de obras literárias na Alemanha –ao todo, houve 9.854 livros de literatura traduzidos em 93.
Não conheço nenhum meio fácil e rápido de aumentar essa proporção, mas estamos nos esforçando: em 1980, fundamos a Sociedade para a Promoção das Literaturas Africana, Asiática e Latino-Americana, uma entidade não-lucrativa que tenta achar editores dos países de língua alemã que traduzam escritores desses três continentes.
Folha - Que autores ou que tipo de literatura do Brasil o sr. acredita que têm chance de conquistar os leitores alemães?
Weidhaas - Acho que todos aqueles que sabem como contar uma boa história e dominam sua arte têm boas chances. Não há como saber de antemão que tipo de livro vai interessar o leitor. São o autor e o seu editor que têm de convencer o leitor de que o livro vai fasciná-lo, que será uma boa leitura e não perda de tempo.
Folha - O sr. não teme que os eventos paralelos relativos à presença brasileira na feira contribuam para uma imagem de exotismo associada ao país?
Weidhaas - Tentamos evitar essa imagem do Brasil como simplesmente o país do futebol, do samba e do carnaval. Esperamos que o foco temático transmita a imagem do Brasil como um país moderno, com uma cultura muito viva e interessante, com uma abundância de tesouros culturais –que, naturalmente, estão em perigo. Gostaríamos de ir além dos estereótipos.
Folha - Além do Brasil, quais serão os destaques da feira?
Weidhaas - Pela segunda vez, a Feira de Frankfurt dá uma ênfase especial aos meios eletrônicos. Teremos mais de 220 expositores numa área especial, e haverá mais de 200 expositores de produtos editoriais eletrônicos espalhados por toda a feira, o que permitirá um mergulho nas últimas novidades desse interessantíssimo segmento editorial. Isso fará da feira a maior reunião entre produtores e usuários dos meios editoriais eletrônicos. Haverá também seminários que ajudarão os membros da comunidade editorial a se familiarizarem com esse aspecto do seu negócio.
Teremos também um "Encontro Leste-Oeste", em que escritores e editores da Europa Oriental poderão conhecer e dialogar com seus colegas de todo o mundo. Esse encontro, que foi criado há três anos, provou ser um instrumento precioso para as pessoas interessadas naqueles mercados.
O encontro inclui outro programa de seminários e os estandes de cerca de 180 editoras. Através desses esforços e de nossas atividades correlatas em treinamento e instrução de pessoas das comunidades editoriais na Europa Central e Oriental, ajudamos a fomentar o comércio Leste-Oeste de livros, a troca de direitos e licenças etc.
Folha - Entre os países que já foram temas da feira, quais os que tiveram mais sucesso?
Weidhaas - Depende do que você chama de sucesso. Holanda e Flandres, que foram o tema do ano passado, tiveram grande sucesso, na exposição e nos eventos. O número de traduções do holandês aumentou tremendamente –há hoje autores holandeses e flamengos que vendem mais exemplares de seus livros em alemão do que em sua própria língua. Mas houve outros países bem-sucedidos: França, Itália e Espanha tiveram boa recepção e bom incremento de traduções; o Japão não foi tão bem no que diz respeito às traduções, mas teve uma participação expressiva na feira e nos eventos paralelos.

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