São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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O fracasso latino

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Alguns países latino-americanos, como Argentina, Chile e México, têm recebido louvações sem conta pelo fato de terem estabilizado e supostamente modernizado suas economias. Da estabilização muito já se falou, contra e a favor.
Vamos, então, olhar a suposta modernização. Reproduzo abertura de "paper" produzido pelo Inter-American Dialogue, fórum baseado em Washington e que reúne personalidades norte-americanas e do subcontinente.
"Nada é mais importante para o futuro econômico e o desenvolvimento social da América Latina e do Caribe do que a educação da sua juventude", diz o relatório. E logo emenda: "Em lugar algum da América Latina e do Caribe essas demandas estão sendo atendidas".
O diagnóstico sepulta, portanto, qualquer especulação sobre o eventual caráter modernizador das políticas implementadas em todos os países da região.
Passemos, agora, ao receituário, que o espaço me impede de reproduzir na íntegra. Alguns pontos, no entanto, são mais essenciais. Um deles é dar mais atenção à qualidade da educação, quando os governantes têm, em geral, se concentrado em aumentar o número de alunos matriculados.
Mas o capítulo essencial é "alocar uma proporção maior dos recursos educacionais à educação primária e secundária". Não que se trate de uma grande descoberta. Inúmeros educadores e mesmo políticos têm ressaltado esse aspecto. O problema é que nunca se foi além da retórica.
Por isso, vale a pena comparar: na América Latina e no Caribe, aproximadamente 25% dos fundos de educação pública vão para a educação superior, na qual estão apenas 6% do total de matriculados. A desproporção já é enorme por si mesma, mas fica mais evidente quando comparada à situação dos chamados "tigres asiáticos".
Nestes, os recursos públicos têm se concentrado nas escolas primárias e secundárias, "limitando o gasto em educação superior a cerca de 15% do orçamento educacional, e focalizando-os em questões científicas e tecnológicas".
A menos de 100 dias da troca de presidente, alguém deveria prestar atenção nesses dados.

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