São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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Está mais difícil

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Num comportamento psicologicamente compreensível, o PT aumentou o tiroteio contra as pesquisas de opinião –é algo parecido ao gordo sempre desconfiado da precisão da balança quando o ponteiro não cede à esquerda ou, pior, avança à direita. É como se quisesse controlar a realidade não pela causa, mas pelo efeito.
O Datafolha dá hoje ao partido mais combustível psicológico na guerra contra a "balança". Se já estava difícil ao PT evitar a derrota no primeiro turno, ficou mais difícil ainda. Fernando Henrique Cardoso continua na linha de crescimento: pulou para 47%, subindo dois pontos. Lula está com 22%.
O candidato tucano está com oito pontos a mais do que todos os seus adversários –o que significa aproximadamente 8 milhões de votos. Primeira conclusão: o caso Maciel, assim como o caso Ricupero, não pegou.
O partido ainda tem esperança de abalar a opinião pública com um escândalo: a esperança centra-se, agora, no empresário Sérgio Motta, um dos principais coordenadores da campanha de Fernando Henrique. Motivo do alvo: Motta não é seu amigo, mas sócio numa fazenda de Goiás. Pega?
A julgar pelos casos Ricupero e Maciel, a opinião pública divide-se em duas formas de encarar as denúncias, independentemente de sua consistência: 1) São mentirosas, "armadilhas de campanha"; 2) São verdadeiras, mas "todos os políticos são iguais". Portanto, cai-se na vala da "indiferenciação".
O PT, nesse caso, sai perdendo com essa indiferenciação. Mas também foi beneficiado. Nenhuma denúncia contra partido pegou: os cheques de Najum Turner na conta do partido ou a casa cedida por um empresário para que Lula morasse de graça, por exemplo.
O caso Bisol pegou mais na militância do partido, zelosa da imagem ética, do que propriamente na opinião pública. Um minoria sabe o nome dos vices –por isso, entre outras coisas, não prosperou a repercussão do ataque a Maciel.
O drama de Lula, porém, é que, como o cronograma do real é também um cronograma de campanha, a inflação vai registrar este mês seu índice mais baixo. E, segundo o Datafolha, quase metade dos indecisos está prestes a se decidir por Fernando Henrique.

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