São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 1994
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Por que a CUT se alia à Fiesp

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Na entrevista publicada ontem pela Folha, o ministro Ciro Gomes cutucou os empresários com uma ironia, mostrando-os em conluio com a CUT. Numa questão essencial, estariam mais próximos de Luiz Inácio Lula da Silva, candidato que combatem, do que com as idéias pregadas em seus discursos: abertura de importações. Tem sentido.
Por trás da discussão sobre a abertura de importação, há uma tremenda enganação: empresários e sindicalistas alegam que corre-se o risco de a produção cair e provocar desemprego. Acena-se, portanto, com o marketing social.
O problema é que, para defender os lucros dos empresários e os empregos de determinadas categorias, os excluídos pagam a conta –e pagam literalmente. O jogo é simples: pede-se aumento salarial, os empresários dão e, depois, despejam no preço. O consumidor, portanto, é a vítima indefesa. Ganha quem é mais forte. O sindicato do ABC, por exemplo, está mais próximo da Fiesp do que do desempregado ou do trabalhador de categoria desorganizada.
Quando, porém, existe abertura à importação, essa transferência torna-se mais complicada: obriga o empresário a reduzir suas margens de lucro, apostar na produtividade e os trabalhadores tornam-se também mais cautelosos.
Difícil entender a pressão das montadoras e dos sindicatos. Reclamam da maior abertura às importações, mas, ao mesmo tempo, o consumidor que quiser comprar determinados tipos de automóvel submete-se a filas e ágio. É sabido que controle de preços não funciona: o melhor remédio é a concorrência.
Em seu esforço para atingir o real, Lula tem dito uma série de idéias corretas. Por trás de Fernando Henrique, há uma legião de pessoas que progrediram na inflação, alimentando-se da crise. Estruturas de poder moldaram-se no colapso do Estado e, terminada a eleição, vão suspender a trégua.
O presidente Fernando Henrique terá problemas com o empresariado, coisa que não aconteceu, muito pelo contrário, com o candidato Fernando Henrique. A aliança a favor da inflação é, porém, mais complexa –e dela fazem parte segmentos dos trabalhadores, capazes de fazer greve a qualquer custo ou unir-se às forças que considera de "direita" para reduzir a concorrência de produtos.

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