São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994
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Nova MP do real deve mudar as metas para a emissão de moeda

VIVALDO DE SOUSA
LILIANA LAVORATTI

VIVALDO DE SOUSA; LILIANA LAVORATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo pode aproveitar a reedição da MP (medida provisória) do real para aumentar os limites fixados para expansão da base monetária até março do próximo ano. Base monetária é a soma de dinheiro em poder do público mais as reservas bancárias.
A meta para o trimestre julho/setembro foi fixada em R$ 7,5 bilhões. Como a procura por reais foi elevada, o CMN (Conselho Monetário Nacional) autorizou elevar esse limite em 20% e passou para R$ 9 bilhões.
O adicional de emissão de reais está previsto na MP e precisa ser aprovado pelo CMN. A média dos saldos diários da base monetária do trimestre julho/setembro já estava em R$ 8,7 bilhões até o último dia 19, segundo dados do Ministério da Fazenda.
A equipe econômica já decidiu que o adicional de 20% será usado no trimestre outubro/dezembro. Com isso, o limite previsto para esse trimestre de R$ 8,5 bilhões vai passar para R$ 10,2 bilhões.
O limite previsto até março, segundo a MP, é de R$ 9,5 bilhões sem os 20% adicionais permitidos.
A elevação dos limites previstos na MP do real está sendo analisada pela área técnica. A decisão final cabe ao ministro da Fazenda, Ciro Gomes. Como foi fixada na MP do real, o ideal é alterá-la na sua reedição, prevista para esta semana.
A proposta em discussão prevê que o limite do trimestre julho/setembro passe de R$ 8,5 bilhões para R$ 9 bilhões, sem o adicional de 20%.
Os limites para os dois trimestres seguintes seriam os seguintes: R$ 10 bilhões e R$ 11 bilhões, sem os 20%.
A avaliação da área econômica é que a procura por real ficou muito acima do previsto. Como o real é considerada uma moeda forte, as pessoas preferem ficar com mais dinheiro no bolso.
Ao aumentar o limite, o governo estaria reconhecendo que errou nas suas estimativas. Hoje, a previsão da equipe econômica é que a base monetária deve aumentar no próximo trimestre.
O ex-presidente do BC (Banco Central), Gustavo Loyola, sócio na consultoria MCM, disse que a alteração não pode ser considerada um estouro das metas monetárias. "Adivinhar a demanda por moeda é muito díficil. É quase um exercício de adivinhação", afirmou.
Loyola argumentou que o brasileiro convive com inflação elevada há muito tempo. Agora, as pessoas preferem ficar com reais no bolso porque já descobriram que não há desvalorização.
O aumento nos limites da base monetária exige em contrapartida, segundo ele, um rígido controle do consumo e do crédito. Se houver excesso de moeda em circulação, podem ocorrer aumentos de preços e a credibilidade do plano de estabilização seria afetada, segundo Loyola.

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