São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994
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Síndrome da reta final

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fernando Henrique tinha tudo para estar tranquilo. À frente nas pesquisas, tem a eleição nas mãos. Pode virar presidente no primeiro turno.
Mas o candidato tucano nunca esteve tão tenso. Se pudesse, dormiria agora e só acordaria em 4 de outubro.
A assessoria de Fernando Henrique teme surpresas de última hora. Receia que o PT radicalize na reta final da eleição.
O temor contamina todo o PSDB. Em diálogos reservados, o ministro da Fazenda, Ciro Gomes, diz: "Meu medo é que, no desespero, o PT providencie um cadáver."
Ciro faz uma ressalva: "Tenho certeza de que o Lula não endossaria nenhuma loucura. Mas nessas horas ninguém controla os malucos."
Em 89, longe de cometer atrocidades eleitorais, o PT foi vítima das loucuras de campanha.
Duas delas certamente influíram de algum modo na hora do voto: o caso Miriam Cordeiro e o episódio Abílio Diniz.
O caso de Diniz, aliás, ocorreu na véspera da eleição. Os sequestradores do empresário foram apresentados pela polícia paulista com material de campanha do PT.
Argumenta-se no comitê de Fernando Henrique que a situação do PT é hoje bem distinta.
Em 89, o partido entrou na eleição apenas para marcar posição. Acabou disputando com chances.
Agora, os petistas estavam convencidos de que venceriam. Daí a convicção de que os setores mais radicais do PT podem mergulhar em desespero.
Fernando Henrique foi informado por sua assessoria de que as contas bancárias do comitê tucano têm sido monitoradas por sindicalistas vinculados à CUT.
Atribui-se também ao PT a tentativa de estabelecer uma ligação de Marco Maciel, vice de Fernando Henrique, com PC Farias.
Na última sexta-feira, Sérgio Motta, principal coordenador da campanha de Fernando Henrique, estava em pânico. Mostrava-se convencido de que o PT lhe preparava alguma "armadilha".
Alheio à inquietação que exalava do comitê de seu principal adversário, Lula parecia ontem mais preocupado com os aliados.
Agarrada à esperança de passar para o segundo turno da eleição, a ala moderada do PT temia a repercussão das negociações salariais de duas categorias de peso: bancários e petroleiros.
Receia-se que as greves programadas para esses dois setores terminem por consolidar a vitória de Fernando Henrique.

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